Para eles, o dia começa cedo, bem antes das aulas iniciarem. Os alunos da rede municipal que utilizam o transporte escolar em Belém e seus distritos podem viajar até a escola com segurança, conforto e a atenção dos condutores e monitores. A responsabilidade é grande, afinal, carregam dezenas de crianças para a escola todos os dias. São 500 alunos utilizando os ônibus e 820 viajando nos barcos do transporte escolar disponibilizado pela Secretaria Municipal de Educação (Semec). O contato é tão estreito, que as crianças encontram uma extensão da família no caminho de casa para a escola.
No Combu, uma das ilhas sul de Belém, 17 embarcações, entre barcos e lanchas, carregam as crianças todos os dias. Uma delas é Luan do Rosário, aluno da Unidade Pedagógica Combu, anexo da Escola Municipal Milton Monte. A hora de embarcar de volta para casa é marcada por risadas e organização das crianças. “A gente brinca, vê filme, pode pegar livro na biblioteca e ler no barco e em casa. O meu ‘pai’ cuida da gente até chegar”, disse o garoto de oito anos.
O “pai” em questão é Thiago Rosa, piloto de embarcação há quatro anos, que não tem qualquer parentesco com o pequeno Luan. “Eles são como parte da família, mesmo. A gente fica muito próximo, porque tem viagem que passa de uma hora”, ele conta com um sorriso no rosto. A embarcação pilotada por Thiago tem capacidade para 35 lugares e todos saem da escola ocupados. “A Prefeitura dedica a atenção que as nossas crianças precisam na garantia desse direito. Eu fico muito feliz por ajudar na educação das crianças da ilha”, Thiago completa.
A tripulação de cada barco conta com um piloto e, no mínimo, um monitor. Todos os barcos contam com coletes salva-vidas e as recomendações de segurança são rigorosamente respeitadas. “O que mais gosto são os bancos, que são confortáveis, a tia diz pra gente usar o colete. É bem divertido, mas não pode brincar em pé. E tem uma televisão que a gente vem assistindo desenho”, disse Vitória dos Santos, aluna da UP Combu. A menina de sete anos se diverte ao falar das atividades no barco. “A gente conta história para os professores que vêm para a escola com a gente. Conta lendas, história do Boto, do Curupira. Quando tem passeio, a gente vai no barco, é muito legal”, relata. Nas saídas pedagógicas até Belém ou outras escolas, as crianças utilizam apenas o transporte escolar, por meio dos barcos, até o porto, e os ônibus dentro da cidade.
O transporte escolar garante a entrada e saída na escola também dos professores, coordenadores e diretores. São 35 profissionais que utilizam as embarcações diariamente, em sua maioria saindo de Belém. Vânia Alves é professora de artes em quatro unidades pedagógicas, Combu, Navegantes, Santo Antônio e São José, e utiliza os barcos do transporte escolar para o deslocamento entre as quatro unidades. Para ela, a rotina é cansativa, mas recompensa. “Eu saio de casa às 4h30 e retorno para Belém 17h. Às 6h30 em ponto o barco está no porto para nos levar. Eu faço qualquer esforço, adoro estar nesse percurso. A gente chega e os alunos estão esperando aqui no trapiche para te dar um abraço”, disse a professora, que ensina do 1º ao 4º ano.
Há um ano trabalhando como professora da rede municipal, Vânia completa: “é uma experiência única, pede atenção, pede que tu te envolvas mais. Eu digo que é por amor às crianças. E elas são muito bem cuidadas. Desde o momento que eles entram no barco até pisarem na escola, é tudo de primeira qualidade”.
Pelas ruas e estradas, os ônibus fazem o transporte diário de 500 alunos, em média. Na Escola Municipal Anna Barreau Mininéia, em Mosqueiro, para cada turno, 85 alunos utilizam o transporte escolar. Quando toca o sinal da saída, os alunos correm para o pátio da escola para se divertirem com os colegas. As brincadeiras seguem até a hora do embarque e de apertar os cintos. Alguns resistem, mas a monitora da viagem, Carmita Lázaro, mostra aos pequenos a importância de viajar com segurança.
As viagens para buscar os alunos em casa começam às 6h20. São necessárias duas rotas para levar todos até a escola. Às 19h os ônibus finalizam as viagens ao deixar as crianças do turno da tarde em casa. Aluno do 2º ano do turno da manhã, Caio Xavier utiliza o transporte escolar desde o ano passado e aprova o serviço. “Eu acho legal, não é calor e eu vou brincando com meus colegas. Eu já conheci dez amigos aqui no ônibus”, disse o garoto de sete anos após contar os amigos nos dedos.
Nas viagens é possível perceber a cumplicidade entre as crianças. “Me sinto em casa. Fico conversando com minha colega de rua até chegar, é divertido. Depois a tia deixa a gente na porta”, conta Gabrielly Barbosa, de oito anos. Falante, a garota usa o transporte escolar há dois anos e é uma das primeiras a entrar no ônibus.
A novata no ônibus da escola Anna Barreau Mininéia é Raíssa da Silva, de 14 anos. Ela utiliza o ônibus há três meses e aprova o serviço. “É bom porque a gente que mora longe pode ir no ônibus. Se a gente for a pé nossos pais reclamam. Quando chove também seria ruim se não tivesse o ônibus. Eles levam e deixam a gente em segurança na nossa casa”, disse a garota. A viagem de Raíssa até em casa demora cerca de 40 minutos. “Eu fiz amizades no ônibus, então nem vejo o tempo passar”, ela brinca.
Não são apenas barcos e ônibus que fazem parte do transporte escolar. Bicicletas também são disponibilizadas para os alunos irem para a escola. Cerca de 5 mil alunos dos distritos de Mosqueiro e Outeiro receberam bicicletas escolares em 2014. Os alunos que tiveram prioridade no recebimento foram aqueles do 6º ao 9º ano e que moram distantes da escola. Os pais dos alunos contemplados assinaram termos indicando ciência do recebimento.
Atendimento - O transporte escolar é essencial para a frequência dos alunos. Com o serviço, os índices de falta são baixíssimos. Após a implementação do transporte escolar, a frequência aumentou mais de 40%.
No transporte escolar terrestre, ao todo, são disponibilizados 38 veículos, sendo 17 para Belém, 11 para Mosqueiro, 3 para Outeiro, 2 em Icoaraci, 1 em Cotijuba e 4 para as demais ilhas. Os distritos de Mosqueiro e Outeiro são os que possuem o maior número de estudantes que utilizam o serviço. Os alunos até dez anos são entregues somente sob a responsabilidade de um adulto, os maiores são deixados na porta de casa.
Nas ilhas, o transporte escolar é realizado por 4 lanchas da Prefeitura e 22 barcos terceirizados. Para as ilhas sul, como Combu e Ilha Grande, 17 embarcações são dedicadas aos 675 alunos locais. Nas ilhas norte, como Mosqueiro, 9 embarcações atendem 145 crianças e adolescentes. Durante os dias letivos, os alunos atendidos pelas embarcações embarcam diretamente em suas residências com os barcos. Para os rios e furos mais estreitos são utilizadas as lanchas.
Mensalmente os veículos e embarcações passam por uma verificação, realizada pela Semec, das condições, qualidade e segurança do equipamento, da rota e das atividades pedagógicas que possuem. Todos os condutores e monitores devem passar por treinamentos para melhor cuidar das crianças. O transporte escolar também é utilizado para o deslocamento de suprimentos como material escolar, merenda, água mineral e bens duráveis.
Investimentos - No Plano de Ações Articuladas de 2018 estão previstas as aquisições de 5,7 mil bicicletas, além da ampliação das séries que serão atendidas, incluindo os alunos do 4º e 5º ano.
Está em andamento também a aquisição de dois novos ônibus para o distrito de Mosqueiro. Entre os anos de 2013 e 2017, 29 ônibus e 2 lanchas foram adquiridos pela Prefeitura de Belém. Em 2017, foram investidos R$ 1,7 milhões no transporte escolar. Em janeiro de 2017 foram entregues 600 novos coletes salva-vidas pela Prefeitura de Belém.
