Considerada a “Meca da Gastronomia” por chefs de cozinha do Brasil e exterior, turistas e pela própria UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura ), a capital paraense será representada na 11ª reunião anual da Rede de Cidades Criativas da UNESCO pelo prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, e pelo presidente da CODEM e coordenador do Comitê Cidade Criativa, João Cláudio Klautau, a partir desta quinta-feira, 29. Ambos embarcaram para a França, para a cidade de Enghien-les-Bains (que desde 2013 é Cidade Criativa das Artes), onde representantes das demais 116 cidades criativas da rede também estarão reunidos.
A delegação de Belém será recebida por Philippe Sueur, prefeito de Enghien-les-Bain, que afirmou que o “encontro anual dará oportunidade de estreitar os laços e nutrir o espírito das cidades criativas”. No encontro, o prefeito Zenaldo Coutinho vai apresentar o dossiê de ações, atividades e conquistas paraenses obtidas por meio da Gastronomia e convidará as demais delegações para o evento que ocorrerá em Belém, em novembro deste ano.
O último evento desta natureza ocorreu em Parma, na Itália, no mês passado, e levou chefs paraenses para a cidade italiana para um intercâmbio de técnicas e de gestão e apresentou ao mundo a singularidade da culinária de Belém.
Relatório de conquistas - Elaborado por um Comitê Interinstitucional formado por órgãos municipais, do Estado e entidades sem fins lucrativos, o dossiê apresenta iniciativas como o projeto “Educando com a horta escolar e Gastronomia”, vencedor do prêmio Prefeito Amigo da Criança, da Fundação Abrinq, que alcança 37 escolas municipais que utilizam ingredientes de pequenos produtores e agricultura familiar de seus entornos na merenda escolar. Também será apresentada a Escola Técnica Municipal de Gastronomia (e Escola de Pesca), com previsão para funcionar até o começo de 2018.
Ansiosos com os resultados da reunião, chefs e representantes de entidades locais relacionadas à gastronomia torcem para que Belém consiga trazer e realizar mais eventos da UNESCO. Para Joanna Martins, diretora executiva do Instituto Paulo Martins, estar na Rede das Cidades Criativas da UNESCO é um privilégio, “primeiro porque fazemos parte de uma rede internacional. O objetivo maior é de que haja troca entre essas cidades, já que elas estão unidas por um propósito comum, que é Gastronomia, que elas possam realizar intercâmbio de conhecimento, de experiências, de negócios, apoiando umas às outras, para que a Gastronomia seja desenvolvida. Mas, a partir desses relacionamentos estabelecidos, muitos outros aspectos vantajosos podem ocorrer para os outros segmentos econômicos do município”. “É uma rede de relacionamento e troca. Ter o reconhecimento de uma entidade internacional, do porte da UNESCO, é garantir à cidade que ela possa utilizar isso em sua divulgação, porque é um selo muito importante no mercado turístico mundial", finaliza.
Fabio Sicilia, chef de cozinha, também só vê aspectos positivos na relação com a Rede de Cidades criativas. “Deixamos de depender de outras cidades, estados para sermos o centro das atenções gastronômicas, termos nosso próprio palco para nossos atores locais projetarem para o mundo nossos produtos, para fortalecer nossa economia. A Gastronomia não se limita apenas ao alimento, Gastronomia é cultura e um sincretismo cultural que possa surgir a partir disto. Um evento desta dimensão e magnitude nos leva a mobilizar a cidade inteira para que possamos fazer uma belíssima reunião. Eu acredito que a prefeitura, tomando esta iniciativa, com o aval da ABRASEL, demais associações e das pessoas que amam esta cidade, fará um belo evento, que ficará como legado para a cidade”, afirma.
Valorização da cultura alimentar paraense - A cultura gastronômica de um povo é, sobretudo, uma importante representação histórica e étnica de uma cidade e Belém possui uma das culinárias (senão a mais) autênticas do Brasil, por ter preservado sua origem indígena/amazônica e, ao mesmo tempo, permitido o casamento destas receitas milenares com técnicas mais recentes de cozinha.
Quando Belém conquistou o título internacional de Cidade Criativa da Gastronomia, concedido pela UNESCO em dezembro de 2015, tornou-se uma das 116 cidades criativas espalhadas pelo mundo. A conquista não veio à toa: foi fruto de um trabalho intenso da Prefeitura de Belém, em parceira com o Governo do Estado e outras entidades representativas do setor. À época, a candidatura da capital paraense também ganhou adesão da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – ABRASEL, Confederação Nacional do Turismo e do Itamaraty.
O reconhecimento de tamanha diversidade gastronômica veio coroar um sentimento comum ao paraense: comida melhor que a papa-chibé, não há! “Se eu pudesse, comeria maniçoba no café da manhã, no almoço e no jantar! Não há comida mais gostosa neste mundo!”, afirma, entre risos, a professora aposentada Regina Lúcia Moraes. A opinião da professora aposentada é compartilhada pelos mais de um milhão de turistas que visitaram o Pará, em 2016 – 1.030.359 visitantes, em dados mais precisos, fornecidos pela Secretaria de Estado de Turismo (SETUR), que injetaram na economia local a soma de 700 milhões de reais. Destes, 916.267 eram brasileiros e 114.092, turistas vindos do exterior. “Voltarei a Belém sempre que puder e, sabendo que a cidade tem um plano para valorizar ainda mais a Gastronomia, só aumenta minha vontade de voltar correndo para rever Belém”, diz o jornalista Wanderley Corrêa, de São Paulo. “Nunca mais esqueci o sabor do filhote na brasa”, confessa entre gargalhadas.