Ações espontâneas e cidadãs fazem de Belém uma cidade melhor

Foto: Alessandra Serrão - NID/Comus
Ações espontâneas e cidadãs fazem de Belém uma cidade melhor
Ações espontâneas e cidadãs fazem de Belém uma cidade melhor
Ações espontâneas e cidadãs fazem de Belém uma cidade melhor
Ações espontâneas e cidadãs fazem de Belém uma cidade melhor

O médico Roberto Macedo, diretor da Unidade Municipal de Saúde do Benguí II, já criou jardim, pôs poesia e letras de música na parede do posto, fez campanhas de doação de sangue e leite humano, construiu um parquinho na área e até edita um jornal, com a ajuda de uma funcionária formada em Jornalismo.

Quando se faz aniversário, os momentos especiais ocorrem ao se receber parabéns, felicitações e presentes, é claro. Por isso, na sexta-feira, 12, quando Belém completa 402 anos de fundação, a cidade festeja a data juntamente com seus moradores, e alguns deles acabam prestando serviços ao crescimento da cidade no desenvolvimento de suas atividades, oferecendo cuidados especiais e belas homenagens à capital paraense.

Merenda - No ano passado, a merendeira Maria Cláudia Ferreira dos Santos, que trabalha na Escola Municipal José Alves Cunha, do bairro do Tapanã, venceu o concurso nacional “Melhores Receitas da Alimentação Escolar”, promovido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), em cerimônia realizada em Brasília (DF), em outubro. No mês seguinte, a receita dela, a “Macarronada Paraense”, esteve na disputa pelo título de “Top 20 Receitas de Ana Maria Braga”, no site oficial da apresentadora Ana Maria Braga, que apresenta o programa “Mais Você”, da Rede Globo de Televisão.

“A minha receita disputou com mais de outras mil, não ficou entre as 20, mas foi muito bom ter estado nessa competição”, contou Maria Cláudia.

A merendeira usou na receita produtos como macarrão, frango, o tucupi e jambu. Com exceção do tucupi, os outros ingredientes já estão à disposição das merendeiras na despensa da escola no dia a dia. Maria Cláudia optou em valorizar ingredientes regionais do Pará, que são bastante nutritivos.

“Buscamos oferecer uma alimentação balanceada aos alunos da nossa escola, que vai ajudar no desenvolvimento deles. Conversamos sempre com eles e mostramos que a merenda da escola é muito boa, porque usa produtos saudáveis e passam pela orientação de nutricionistas. Dizemos que é melhor comer a nossa merenda ao invés de coisas industrializadas, como biscoitos e salgadinhos. Eu falo que outro ingrediente usado é o amor que tenho ao fazer a comida dos alunos, e isso faz tudo ser diferente”, enfatizou a merendeira.  

Maria Cláudia também disse que a degustação da macarronada foi bem aceita e a aprovada pelos estudantes e que, em breve, o prato vai constar de cardápio diário da escola.

Jornal - O médico Roberto Macedo, de 79 anos, é formado há 54 e desde 2013 é o diretor da Unidade Municipal Básica de Saúde do Benguí II. Ele conta que sempre procurou documentar as atividades que promove nos locais onde trabalhou, e assim foi quando ele era um dos diretores do Clube do Remo e criou um jornal chamado Leão Azul.

Mas o doutor Roberto, antes de possuir essa veia jornalística, é um homem que se preocupa em cuidar das pessoas da comunidade onde ele está atuando. “Eu falo que tenho a felicidade de ser o diretor do posto do Benguí II”, diz.

Quando buscou a cooperação da comunidade, o resultado foi muito positivo e diversas atividades começaram a ser feitas no posto e arredores, com a ajuda de muitas pessoas. “Criamos juntos um jardinzinho, afixamos pelas paredes do posto pequenos cartazes com poesias e letras de músicas de poetas paraenses, e quando as pessoas os leem saem um pouco da tensão da doença. Também criamos campanhas para doação de sangue e de leite humano, que foram grande sucesso, e até uma forma de coibir roubos de bicicletas no bairro. Também construímos um parquinho para as crianças, que será inaugurado quando a reforma do posto ficar pronta, o que será em breve”, contou.

Tantas atividades em prol e com a comunidade foram muito benéficas, mas faltava documentar tudo. Quando Sônia Lima, que tem formação em Jornalismo, foi trabalhar no laboratório do posto, a ideia do jornalzinho passou a se tornar realidade, surgindo assim o periódico Info Bengola II.

Sob a responsabilidade do doutor Roberto e de Sônia, o jornalzinho, que tem periodicidade trimestral, já está prestes a chegar à oitava edição. “No jornal, estampamos o trabalho que está sendo desenvolvido no posto, e também mostramos as pessoas da comunidade, suas atividades e como elas nos ajudam no posto. Começamos com apenas uma página, frente e costa, e a próxima edição do jornal terá 14 páginas”, comemora o médico.  

Para Roberto Macedo, a forma como o jornal é recebido pela comunidade do Benguí II é uma maneira de mostrar que Belém pode ser uma cidade melhor. “Vejo no posto atitudes espontâneas e solidárias e precisamos valorizar isso. Eu tenho o maior prazer e alegria de contar com a cooperação de pessoas tão especiais, que ajudam o bairro e a cidade a serem melhores”, afirma.  

Jardim - Moradora de uma casa na rua de Breves, bem de esquina com rua Triunvirato, no bairro da Cidade Velha, Ângela Vasconcelos, formada nos cursos de Direito e Administração, fez uma parada nessas atividades para cuidar um pouco mais da família e dos filhos pequenos. Com um pouco mais de tempo livre, ela percebeu e começou a se incomodar bastante com um terreno desocupado na outra esquina das ruas, em frente à casa dela.

“Esse terreno era um depósito de entulhos, um verdadeiro lixão. E isso incomodava a mim e aos meus vizinhos. Por cerca de dez anos convivemos com esse problema, porque nesse local havia um container e todo mundo jogava lixo nele. Quando a Prefeitura retirou esse equipamento, as pessoas continuaram a jogar lixo no local”, conta.

Ângela sempre se perguntava de que forma o problema do lixão poderia ser sanado. Quando ela se formou em Direito, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dela foi sobre a questão do lixo jogado desordenadamente em Belém. “Na verdade, havia se tornado um círculo vicioso. A Prefeitura vinha e limpava o terreno, mas as pessoas continuavam a jogar lixo. O que pensei foi que deveria ter uma forma de acabar com esse problema definitivamente. Foi aí que tive a ideia de fazer um jardim no terreno, mas na primeira tentativa o lixo foi jogado em cima das plantas que estavam lá”, explicou.

A preparação para o jardim, depois do fracasso da tentativa inicial, começou com a pintura de pneus para que futuramente protegessem as plantas. E quando o terreno foi limpo novamente, em junho do ano passado, Ângela plantou flores e arbustos e os cercou com os pneus coloridos. Os vizinhos, que já têm amizade entre si e já haviam se mobilizado em serviços para a rua, como segurança e asfaltamento, viram o resultado e passaram a ajudar doando sementes e mudas de flores e árvores. A partir daí, o jardim tomou forma, e atualmente Ângela e dez de seus vizinhos contribuem e ajudam na manutenção do jardim, trabalho que eles mesmos fazem em conjunto, tirando o lixo jogado, limpando e com uma roçadeira cortando o mato que cresce.

Para Ângela, a criação do jardim foi uma forma de homenagem e de cuidar da cidade de Belém. “Um local, onde antes era um lixão e hoje se vê verde, flores e passarinhos, ao invés de urubus, é uma transformação e faz a cidade respirar um ar de limpeza. Se outras pessoas quisessem e pudessem acabar com os lixões que vemos por aí, com certeza Belém seria uma cidade melhor”, aposta.

Iniciativas cidadãs, como as de Ângela e seus vizinhos, criando um jardim comunitário, também podem ser encontradas em outros locais de Belém como no Utinga, no conjunto Satélite e na avenida Perimetral.

Relacionadas: