Pesquisar

Quilombolas de Mosqueiro têm Roda de Conversa sobre políticas públicas de combate ao racismo

Foto: Joyce Ferreira / Comus
Quilombolas de Mosqueiro têm Roda de Conversa sobre políticas públicas de combate ao racismo
Quilombolas de Mosqueiro têm Roda de Conversa sobre políticas públicas de combate ao racismo
Quilombolas de Mosqueiro têm Roda de Conversa sobre políticas públicas de combate ao racismo
Quilombolas de Mosqueiro têm Roda de Conversa sobre políticas públicas de combate ao racismo
Quilombolas de Mosqueiro têm Roda de Conversa sobre políticas públicas de combate ao racismo

O território quilombola do Sucurijuquara foi reconhecido oficialmente pela Fundação Palmares em 2013 e nascido juridicamente em 2018

No Dia Nacional de Denúncia do Racismo, transcorrido nesta quinta-feira, 13 de Maio, a comunidade quilombola do Sucurijuquara, no distrito de Mosqueiro, recebeu a primeira roda de conversa promovida pela Coordenadoria Antirracista da Prefeitura de Belém (COANT), numa área oficialmente reconhecida como território tradicional quilombola na jurisdição do município de Belém.

De acordo com a coordenadora do COANT, Elza Fátima Rodrigues,  outros encontros similares já tinham ocorrido com grupos afroreligiosos, jovens e comunidades tradicionais indígenas. Para ela, o encontro com os quilombolas do Sucurijuquara foi pontuado por grande alegria.

Canal de intermediação - A Coordenadoria Antirracista da PMB é um canal de intermediação entre a Prefeitura e as comunidades tradicionais. De acordo com Elza Fátima Rodrigues, as rodas de conversa propõem debates que visam garantir políticas públicas voltadas aos negros, indígenas, além de estimular as secretarias municipais a promoverem conteúdos e ações que garantam a afirmação da identidade cultural e acesso a serviços públicos de qualidade em vários segmentos sociais, educacionais e econômicos.

“Nós estamos para debater, receber as demandas, estimular e também fiscalizar o cumprimento dessas ações na esfera da administração municipal”, disse. “Eu estou muito feliz por estar aqui nesse território quilombola, um local de resistência, onde nós iniciaremos um grande debate e uma parceria para melhorar as condições da comunidade como um todo”, completou.

A roda de conversa levou para Mosqueiro representantes da Secretaria Municipal de Educação (Semec), da Fundação Papa João XXIII (Funpapa), da Coordenadoria da Diversidade Sexual (CDS), da Coordenadoria da Mulher (COMBEL) e da Agência Distrital de Mosqueiro. O encontro foi aberto pela presidente da Associação Remanescente de Quilombo do Território da Comunidade de Sucurijuquara, Roberta Vale, que fez um breve relato sobre o histórico de luta da comunidade no processo que buscou a oficialização do território. Ela também destacou que ser quilombola não está associado somente ao tom da pele ou serem herdeiros de escravos, mas sim, ter a consciência afirmativa de um povo que foi escravizado, mas que se manteve firme e resistente para garantir suas tradições culturais.

O território quilombola do Sucurijuquara foi reconhecido oficialmente pela Fundação Palmares em 2013 e nascido juridicamente em 2018. Foram três anos de muito trabalho a partir das pesquisas do professor Domingos Conceição. Atualmente, a comunidade vem recebendo maior atenção por parte do poder público municipal, pois até o início da gestão do prefeito Edmilson Rodrigues, a comunidade atravessou quatro anos sem médico no posto de saúde local.

Segundo Rosália de Nazaré Vale, secretária da Associação Quilombola, as novas necessidades estão relacionadas à iluminação pública, limpeza de ruas, transporte público e ampliação dos serviços médicos e de odontologia, além das questões sociais como os benefícios dos programas de renda do Bolsa Família e o Bora Belém. A roda de conversa para Rosália serviu para driblar a crise e selar as parcerias para que a comunidade consiga crescer, mantendo suas tradições. “Nós precisamos reforçar nossa tradição e nossa identidade, então, esse encontro vem fortalecer ainda mais nossa luta”, elogiou.

Matriarca – A roda de conversa também homenageou a matriarca da comunidade quilombola, Creuza Chaves, 92 anos. Ela ganhou um quadro desenhado pelo professor de artes da escola Angelus Nascimento, Leonardo Alonso. Dona Creuza, também conhecida como a “Querida do Sucurijuquara”, deixou sua mensagem relembrando seus antepassados de resistência e muito amor pelos seus descendentes. Vale ainda destacar a mesa que a comunidade preparou. A ornamentação simbolizou as atividades do quilombo como os acessórios de pesca artesanal (matapi e um remo), da fabricação de farinha (tipiti), além das plantas medicinais e frutas.

Apoiadores – A roda de conversa levou para dentro do quilombo do Sucurijuquara as representações mais significativas da gestão municipal para apoiar as políticas públicas de identidade cultural e racial, de educação, de assistência social e médica, da diversidade sexual e principalmente das ações voltadas às mulheres. Lívia Noronha, da Coordenadoria da Mulher de Belém (COMBEL), disponibilizou os serviços de acolhimento psicossocial, jurídico e de políticas públicas de afirmação. “Queremos trazer o atendimento da Combel para dentro desse território para ouvirmos os relatos e buscar soluções em parceria com a comunidade”, garantiu.

Já a Funpapa, também se disponibilizou a realizar ações que buscam identificar e ampliar o número de famílias beneficiadas com os programas de renda social e ingresso ao cadastro social (CadÚnico). A Funpapa detém uma pesquisa com indicadores sobre as necessidades da comunidade. De acordo com Daniele Santa Brígida, diretora da assistência social básica e especial, as ações que visam melhorar os indicadores seriam aplicadas em 2020, mas devido à pandemia, foram adiadas. “Estamos preparando um novo trabalho para atendermos este ano a comunidade quilombola”, disse. Ainda na área social, estiveram presentes na roda de conversa os representantes da CRAS e do CREAS Mosqueiro.

Sobre a necessidade de melhorias de limpeza pública no quilombo, a agente distrital de Mosqueiro, Vanessa Egla, explicou os mecanismos de atendimento e disse que o bairro do Sucurijuquara vem sendo atendido dentro do cronograma e que a manutenção das vias deve receber novas obras, a partir da segunda quinzena de maio. A gestora também confirmou a parceria e se dispôs a receber os representantes da comunidade na Agência Distrital na próxima sexta-feira.

Racismo - O dia 13 de Maio também é alusivo à abolição da escravatura no Brasil. No município de Belém, a data ganhou a versão do dia das denúncias de racismo. No Quilombo do Sucurijuquara, ainda é forte a resistência de muitos moradores que não se reconhecem como quilombolas. Segundo Rosália de Nazaré Vale, a situação é conflituosa, porém, de fácil entendimento dado aos séculos de submissão e de não aceitação pela condição de escravizados. “Hoje é um dia muito especial porque nós reforçando a necessidade da nossa resistência, dos nossos ancestrais, temos certeza que um dia, por meio da educação, vamos derrubar esse preconceito”, almeja.

Para a professora Sinara Dias, da Coordenadoria de Educação para Relações Etnicoraciais, da Secretaria Municipal de Educação (Semec), esse tipo de comportamento é fruto do racismo estruturado no Brasil, quando o indivíduo não se reconhece como quilombola. A professora defende a implantação urgente de políticas públicas afirmativas, troca de experiências e diálogos junto à comunidade. “Somente desta forma vamos avançar com a política de combate ao racismo e também trabalhar com a nova gestão, que tem esse olhar especial, inclusive de transformar a escola da comunidade em escola quilombola”, disse a educadora.

Os próximos encontros dos participantes da roda de conversa serão individualizados, conforme aprovação da coordenadora Elza Rodrigues. “Foi um encontro positivo. A Coordenadoria Antirracista da Prefeitura de Belém vai continuar dialogando e promovendo esses encontros com objetivo de solucionar problemas que atingem essas comunidades tradicionais de negros e indígenas”, destacou.

A roda de conversa foi realizada na Escola Municipal de Educação de Campo Angelus Nascimento.

Nenhuma tag relacionada.

Relacionadas: