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Um fragmento da Amazônia no coração de Belém

Foto: ADRIANO MAGALHÃES
Um fragmento da Amazônia no coração de Belém
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Um fragmento da Amazônia no coração de Belém

Construído com inspiração nos bosques parisienses o Bosque guarda espécies nativas e também espaços curiosos e cheios de mistério como a Gruta e as Ruínas do Castelo

Um vasto pedaço da Amazônia concentrado em uma área de 150 mil metros quadrados no meio da área urbana de Belém. O Bosque Rodrigues Alves Jardim Botânico da Amazônia é um importante espaço da cidade que atrai centenas de visitantes por sua variedade de espécies da fauna e da flora do ecossistema amazônico.

Inaugurado como Bosque Municipal Marco da Légua, em 25 de agosto de 1883, no governo do então intendente José Coelho da Gama Abreu, durante o ápice da exploração da borracha, o espaço foi inspirado no Bois de Bolongne (Bosque de Bolonha), um tradicional logradouro parisiense. Eram os tempos da chamada Belle Époque, quando Belém despontava como a “Paris dos Trópicos”.

No governo do intendente Antônio Lemos (1900-1903), o espaço ganhou o nome de Bosque Rodrigues Alves e passou por uma grande reforma, que muito contribuiu para a apresentação atual. Em 2002, foi reconhecido nacional e internacionalmente, como Jardim Botânico da Amazônia.

Os diversos monumentos históricos distribuíddos pelo espaço refletem a influência do período áureo da borracha e da elite local. Na entrada principal, pela avenida Almirante Barroso, o pórtico tem estilo eclético, com duas torres altas, elementos decorativos e caramanchão, típicos das construções européias. No interior do Bosque, a Gruta Encantada é um dos pontos mais visitados. A estrutura lembra uma grande caverna com túneis e depressões. Elaborada para simbolizar o céu e o inferno, a gruta permite uma ampla visão da vegetação em volta na parte superior.

Perto da Gruta, existem as Ruínas do Castelo, construídas em estilo romântico, que chamam a atenção pelo seu visual inacabado e grandioso. Outra importante construção é o Chalé de Ferro, que está entre os três chalés desse tipo existentes na cidade. Tombado pelos patrimônios histórico municipal, estadual e nacional, o Chalé tem estilo arquitetônico desenvolvido na Bélgica e quase 400 metros quadrados de área.

Outra atração é a Fonte dos Intendentes, localizada no meio do Bosque. Inaugurada em 1906 como homenagem ao Congresso de Intendentes de todo Pará e caciques do Partido Republicano, ocorrido em 1903. No monumento, constam os bustos de Antônio Lemos e Augusto Montenegro, além de duas estátuas de bronze.

Os mitos amazônicos também ganharam representações em formas de estátuas. Instaladas na primeira abertura de acesso ao Bosque, as estátuas do Curupira e do Mapinguari representam os protetores da floresta. A Iara está representada em uma estátua localizada no lago que leva seu nome, onde é possível fazer passeios de barco. A educadora ambiental Ana Célia Souza diz que as figuras mitológicas são usadas em oficinas, palestras e demais ações educativas para ensinar as crianças a respeitarem e conservarem a natureza.

Construções e espaços que também se destacam são o Coreto Chinês, a Homenagem aos Naturalistas, o Parque Infantil, a Brinquedoteca, o Orquidári, a Cascata, a Fonte e o Aquário. O Bosque conta com banheiros adulto e infantil, quiosque de alimentação, biblioteca e posto da Guarda Municipal. A família de Anderson e Tatiany Texeira fez uma visita de férias. Ela, paraense que mora há seis anos em São Paulo, costumava frequentar o lugar quando criança. “Agora, eu volto depois de muito tempo, para trazer meu marido paulista, meu filho e dois sobrinhos de Santa Catarina para conhecerem esse espaço que sempre foi muito bom visitar”, relembra Tatiany.

O marido da paraense ficou admirado com a variedade de elementos em um só lugar. “Gostei muito do espaço, porque além dos animais para visitarmos, tem todo esse ambiente natural e agradável em volta”, admirou-se Anderson.  

Vegetais - De acordo com censo realizado em 1998 pelo Setor de Flora, o Bosque Rodrigues Alves abriga cerca de 10 mil árvores de mais de 300 espécies, sendo 50 famílias botânicas e 194 gêneros, espalhados por uma área de 15 hectares, o equivalente a 15 campos de futebol. O engenheiro florestal do Setor de Flora do Bosque, Warley Melo, explica que 96% são de espécies nativas da Amazônia e o restante são consideradas exóticas. Dentre elas, estão a mangueira, jambeiro, jaqueira e as palmeiras rabo de peixe, imperial e leque. “As espécies exóticas foram trazidas de fora, mas acabaram criando mecanismos de sustentabilidade que as fizeram se adaptar facilmente ao nosso ambiente”, destaca o engenheiro.

Segundo Warley, a espécie vegetal mais curiosa do Bosque é a Cuiarana, que é a mais alta das espécies nativas, com 50 metros de altura e 300 anos de existência. Dentre as espécies exóticas, ele destaca a palmeira rabo de peixe, que precisa passar por rigoroso controle para não tomar conta do espaço e inibir os demais vegetais.

Na área também são preservadas e conservadas espécies nobres que estão ameaçadas de extinção. É o caso do Angelim e da Maçaranduba, com exemplares de 500 e 600 anos, respectivamente. Outra árvore relevante no acervo é a Andirobeira, muito usada na medicina alternativa e popular, com exemplares que já chegaram aos 150 anos. Seringueira, Samaúma, Paricá, Marupá e Açaí são outras espécies encontradas. “Uma diferença entre o Bosque e demais jardins botânicos do Brasil e do mundo é que o espaço, com algumas espécies, já existia antes ser oficialmente o que é hoje. Por isso, algumas espécies são até mais antigas que sua fundação”, detalha o engenheiro florestal.

No meio no Bosque, o jardim sensorial, projeto de inclusão para deficientes visuais chama atenção. As plantas do jardim são identificadas com placas em braile. O caminho é guiado por uma corda para que o visitante possa se orientar e o chão é diferenciado para ele identificar até onde vai o jardim.

Animais – São 435 animais de 29 espécies que vivem em cativeiro e outras 26 em liberdade ou semi-liberdade, distribuídas na área da mata. Dentre as espécies que cruzam os caminhos de quem circula pelo Bosque estão cutia, paca, tamanduaí, tatu, macacos de cheiro - que fazem a festa dos visitantes por interagirem com eles, além de algumas aves como marrecas, socó e araçari. 

A grande atração entre os animais é o peixe-boi, não apenas pelo tamanho, mas pela idade. O Kajuru, como é chamado pelos biólogos do Jardim, tem mais de dois metros de comprimento, pesa 300 quilos e recebe cerca de 30 quilos de alimentação por dia. Ele chegou ainda filhote ao tanque do Bosque e esse ano completará 61 anos, superando a expectativa de vida da sua espécie criada em cativeiro.

A veterinária Katiany Galo, do Setor de Fauna, acredita que ele pode ser o peixe-boi mais antigo criado em cativeiro no Brasil. “Por conta da idade dele, os cuidados são redobrados para que ele não adoeça. Na dieta, tem couve, pepino, abóbora, melancia, melão, capim gordura, entre outras frutas e legumes”, detalha a bióloga.

Quem também recebe muitas visitas é a moradora mais recente do Jardim, a jaguatirica Lina. Ela foi retirada, ainda filhote, de um cativeiro, em Cametá. No Bosque, ganhou um recinto construído especialmente para ela, no ano passado. Lina também é a primeira representante dos felídeos no local.

Os macacos pregos, conhecidos como “os engraçadinhos do Bosque” pela interação que têm com o público, são muito procurados. Eles também estão com um lar recém-construído, atendendo às determinações do Ibama especificamente para esses animais.

Dentre os repteis, destacam-se os jacarés e os cágados, que têm um lago exclusivo pra eles, onde estão tracajás, muçuans, aperemas, tartarugas amazônicas e cabeçudas. Na Jabotilândia, existem mais de 40 representantes das espécies de pé vermelho e pé amarelo, que estão em constate reprodução. Recentemente, um exemplar foi abandonado no Bosque, com sinais evidentes de alimentação inadequada e maus tratos. Também existem no acervo cobras como jibóias, falsas corais e iguanas.

Outra atração do Jardim Botânico é a arara azul, um único exemplar macho. Ele vive solitário a esperar pela parceira ideal. Além dele, existem mais duas da espécie vermelha e duas da piranga, que vivem soltas. As demais aves encontradas em recintos são periquitos; jandaia; corujas; papagaios; marianinha; tucanos; guará e garças. 

Existe ainda uma imensa variedade de peixes como tambaqui, acará, apaiari, jacundá e poraquê.

Trilhas - O Bosque Rodrigues Alves, além de cumprir o importante papel de preservação dos recursos naturais amazônicos, promove relevantes ações de interação com a comunidade local, pesquisadores, visitantes e turistas. As trilhas são importantes instrumentos para essa interação e para mostrar que o Bosque é mais que lugar de lazer. A maioria do público vem das escolas. São até 150 pessoas nas trilhas diariamente, monitoradas pela equipe de educadores ambientais, que mostram aos visitantes a importância histórica do lugar, monumentos e os recursos de flora e de fauna.

A professora de educação física, Marlene Martins, além ser uma frequentadora assídua do espaço para atividades físicas, também resolveu levar os alunos, do 1° e 2° anos do Ensino Médio da Escola Estadual Manoel Leite Carneiro, do bairro do Tenoné, para conhecerem melhor o lugar. “A intenção é que eles levem os conhecimentos que estão recebendo aqui sobre a natureza e a história do Bosque para a nossa Feira de Ciências. Além disso, queremos contribuir para que, desde cedo, eles tenham consciência da importância da preservação da natureza e do Bosque”, defendeu a professora.

Serviço – O Bosque Rodrigues Alves Jardim Zoobotânico da Amazônia funciona de terça-feira a domingo, das 8h às 17h. A venda de ingressos encerra sempre uma hora antes do fechamento do espaço. O ingresso custa R$ 2, com direito a meia entrada para estudantes e crianças de 7 a 12 anos. Crianças menores de 7 anos e idosos não pagam.

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