Nos primeiros 100 dias de gestão da Prefeitura de Belém, além da implementação de programas essenciais para o cuidado e zeladoria da cidade, como o "Belém Limpa", "Tapa Buraco", "Ilumina Belém" e "Cidade Verde", um dos marcos da administração tem sido a promoção do protagonismo feminino. Isso se reflete na escolha de mulheres para ocupar cargos estratégicos. Atualmente, elas comandam 60% das secretarias municipais e recebem incentivo e ações de promoção do empoderamento feminino.
Para garantir acesso a direitos, capacitar mulheres para atuação em diferentes setores e combater a violência de gênero a gestão municipal criou a Secretaria da Mulher (Semu). “É um marco histórico na cidade, fruto da luta de muitas mulheres e de uma gestão comprometida com a justiça social", declarou Silvane Ferraz, titular da pasta, instituída em fevereiro de 2025. “Nos primeiros três meses de atuação, reafirmamos nosso compromisso com a promoção da equidade de gênero, o combate à violência contra a mulher e o fortalecimento da cidadania feminina em Belém”, acrescentou.

Programa Belém por Elas
Entre fevereiro e março, a Semu atendeu cerca de 300 mulheres em iniciativas como o Programa Belém Por Elas, que oferece uma série de serviços voltados ao público feminino. Dentre as ações, destacam-se atendimentos de saúde, emissão de documentos, cuidados com a beleza, corrida “mulheres em movimento”, rodas de conversa, cursos de capacitação profissional, além de mutirões de prevenção ao câncer do colo do útero. Este último, para levar orientações, exames e atendimento médico, já que o câncer do colo do útero é o terceiro tipo mais incidente entre as mulheres no Brasil e o segundo mais comum na Região Norte de acordo com o “Relatório Anual do Instituto Nacional do Câncer de 2023 a 2025”.

O atendimento jurídico, com orientações sobre questões como pensão alimentícia e violência doméstica também tem sido destaque do programa. De acordo com Enoy Fonseca, chefe de Gabinete da Semu, “muitas mulheres não sabem como garantir a pensão alimentícia ou o que fazer em casos de violência doméstica" e, nas horas críticas, esse apoio é fundamental.

No Projeto Rodas de Conversa nos bairros, psicólogos, assistentes sociais e advogados compõem uma equipe multiprofissional que dialoga com mulheres nas comunidades. A iniciativa já percorreu bairros como Pedreira, Tenoné, Campina e áreas do distrito de Icoaraci levando suporte profissional em diferentes áreas. Os principais temas abordados são saúde mental, saúde física e violência doméstica, que a secretaria se dedica ativamente a combater.
Curso de Autodefesa Feminina
Diante dos diversos tipos de violência física a que mulheres ficam expostas, a Semu preparou um curso de autodefesa feminina, para esse mês de abril. Até agora, já são 50 mulheres inscritas, todas moradoras do bairro do Tenoné.
Uma das participantes é Waleska Trindade, servidora pública, de 41 anos. Ela é uma das lideranças do Tenoné e explica que participou de uma aula de autodefesa feminina em uma das ações do Programa Belém por Elas realizada em uma praça de Belém.
“Eu fiquei encantada com o que aprendi. Como por exemplo, aprendi a sair de um enforcamento. Se alguém vier por trás da gente, com o objetivo de nos sequestrar, também já sei como me defender. Aprendi a soltar a mão de alguém que está apertando meu pulso ou puxando o meu cabelo. Então, eu combinei com a equipe da Semu, que estava na ação da praça, para realizarmos esse curso para as mulheres do Tapanã. A autodefesa feminina é um aprendizado que todas as mulheres devem levar para a vida”, argumentou a servidora.

“A minha casa funciona como uma casa de apoio, realizamos cursos profissionalizantes, rodas de conversa e eventos para as mulheres do bairro. E, das 50 mulheres que participam, mais de 30 sofrem violência doméstica em casa, seja do marido, do filho ou de outro parente”, relata. “Aprendendo a autodefesa, caso essa violência doméstica venha a acontecer, a mulher já está preparada para se defender”, completa.
Além das aulas práticas, o curso envolve conversas com as participantes sobre o que é violência doméstica e como identificá-la, pois, de acordo com Waleska, “muitas não compreendem que estão passando por isso”.
Empreendedorismo e Autonomia Financeira
Um dos objetivos da Semu é também promover a autonomia financeira das mulheres em situação de vulnerabilidade social. Por isso, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), elaborou um curso de empreendedorismo para capacitar mulheres que já são empreendedoras ou que desejam empreender, para que a partir do próprio negócio, elas alcancem a independência financeira e melhorem de vida.
O curso começou em março e vai até o final de abril, com aulas sobre estratégias de venda, uso das redes sociais para promover produtos e comunicação com clientes nas feiras de vendas, entre outros temas.

Na turma de 40 alunas do curso está Caludineia Veloso, de 56 anos, moradora do Tapanã. Claudineia trabalhava como restauradora de livros em uma empresa e com artesanato, para complementar a renda. Porém, há cinco anos, o filho dela sofreu uma doença grave e ela precisou largar o trabalho formal para cuidar integralmente dele. Desde então, ela tem como única fonte de renda para prover a casa o auxílio-doença que o filho recebe do governo federal e a venda de artesanato. “Eu vendo bolsa, tapete de crochê, nécessaire, agenda, cartonagem, bloquinhos, porta sabonete, estojo, entre outras criações”, conta a artesã.
A empreendedora explica que o curso ajudou a entender sobre estratégias importantes para o negócio. “Aprendi muita coisa que eu não sabia, como por exemplo, a forma correta de postar o meu produto no Instagram, como produzir vídeos, as ferramentas que existem nessa rede social voltadas para a venda e até como falar em público, nas feiras que participo”, disse Veloso.
“Domingo passado participei de uma feira, e soube divulgar bastante no Instagram que iria participar. Compareceu muita gente e foi o dia em que eu mais vendi meus produtos em todos esses anos que tenho o meu negócio”, comemorou.

A coordenadora de Segurança, Habitação e Autonomia Econômica das Mulheres da Semu, Silvana Rabelo, é uma das responsáveis pelo curso. Segundo ela, além das habilidades que as alunas desenvolvem nas aulas de empreendedorismo, o curso resgata a autoestima. “Tem mulheres que já são empreendedoras e tem outras que querem iniciar agora, e estão começando do zero. Muitas chegam com vergonha de falar suas ideias, de conversar e nós vamos ‘quebrando o gelo’, mostrando que elas são capazes”, explica Rabelo.
Para a secretária da Silvane Ferraz, “um município comprometido com a equidade de gênero deve estruturar políticas públicas para as mulheres com base em três pilares: proteção, promoção de direitos e participação”. Ela defende que é necessário “fortalecer a rede de proteção com atuação integrada entre saúde, assistência e campanhas permanentes de prevenção e conscientização sobre violência de gênero”. Segundo a secretária, “são compromissos que estão totalmente afinados com os projetos que a Secretaria da Mulher desenvolve e com os novos projetos que ela irá desenvolver”.
Mulheres no comando
Compromissada com a promoção da liderança feminina, a atual gestão tem 60% das secretarias da Prefeitura de Belém comandadas por mulheres. Uma delas é Elen Sandra de Melo Monteiro, nomeada inspetora-geral da Guarda Municipal de Belém. Ela é a segunda mulher a comandar a corporação e a primeira servidora de carreira no cargo.
Elen Monteiro relata que teve um grande acolhimento dentro da corporação, mas houve desafios, como a desconfiança de alguns colegas porque “acreditavam que a gestão de uma mulher não seria bem-sucedida, já que a corporação sempre foi liderada por homens".
"O que observamos é que, enquanto a liderança masculina, muitas vezes, se associa a um ‘pulso firme’, minha gestão tem um enfoque em acolher os servidores, entender seus problemas e oferecer apoio. Essa abordagem resultou na diminuição da incidência de faltas entre os membros da corporação", afirmou Elen Monteiro. "Em um quadro em que 80% da corporação é masculina, essa vitória é um avanço importante promovido pela Prefeitura de Belém", concluiu.

Além de Elen Monteiro, outras mulheres estão à frente de Secretarias essenciais na gestão municipal com Nay Barbalho, titular da Secretaria Municipal de Inclusão e Acessibilidade (Semiac); Thayta Martins, à frente da Secretaria de Zeladoria e Conservação Urbana (Sezel); Juliana Nobre na Secretaria de Meio Ambiente e Cima (Semma), Silvane Ferraz, na Secretaria da Mulher (Semu); Ariela Motizuki na Secretaria Municipal de Comunicação (Secom); Cilene Sabino à frente da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Semcult); Raphaela Segadilha na Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Direitos Humanos (Semcad); Elizabeth Pereira Pires, na Secretaria Municipal de Proteção e Defesa Animal (Sepda); Talita Magalhães, como Controladora Geral do Município; Ana Carolina Gluck Paul, como Procuradora Geral do Município; além de Glenda Amaral, como subprefeita de Outeiro.
Recentemente, a Prefeitura de Belém nomeou mais quatro mulheres na administração municipal, são elas: Bruna Lorrane, secretária executiva de Políticas e Bem-Estar de Belém; Sue Mourão, secretária executiva de Cultura de Paz de Belém; Pamela Massoud, secretária executiva de Articulação Comunitária; e Flávia Marçal, superintendente da Primeira Infância de Belém.
Com essas nomeações, a Prefeitura Municipal de Belém reforça o compromisso com a igualdade de gênero e consolida a capital paraense como exemplo de valorização da liderança feminina no setor público.