Nos arredores da Belém continental, dezenas de ilhas abrigam uma parcela considerável da população da capital, que vive da pesca e do extrativismo. Na Belém das águas, a Prefeitura de Belém mantém a Escola da Pesca, vinculada à Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira (Funbosque), criada para garantir a formação de filhos de pescadores e trabalhadores da pesca da região das ilhas com propósito de reduzir a pobreza e melhorar a gestão de recursos naturais do município. A unidade escolar atua na qualificação profissional e técnica de jovens nas áreas de pesca e aquicultura.
A Escola da Pesca, em Outeiro, mantém um ritmo pedagógico especial, que tem garantido a alta taxa de sucesso na formação de jovens ribeirinhos. Ítalo Sodré é um deles. O menino de 15 anos sonha em deixar os bancos escolares com uma formação: quer ser técnico em recursos pesqueiros e, num futuro próximo, engenheiro de pesca.
A rotina escolar de Ítalo começa bem cedo. Por volta das 5h, Ítalo já está pronto, esperando a embarcação da Escola da Pesca que o levará para a sala de aula, na sede do distrito. A unidade é a única no Pará que trabalha na modalidade de alternância. Os alunos que vivem nas ilhas de Belém passam 15 dias na escola, sendo completamente assistidos pela instituição, com a garantia de alimentação e estadia, além de receberem as aulas do currículo comum e as aulas técnicas profissionalizantes.“Nós ensinamos a aplicação de tecnologias no pescado que. E os próprios alunos pescam nas ilhas. Ou seja, eles levam para as suas próprias vidas o que aprendem aqui”, explica a engenheira de pesca e professora Geandria Freire.
Ítalo Sodré mora na ilha de Calcutá com os dois irmãos, o padrasto, que é pescador artesanal, e a mãe, auxiliar de cozinha. Soube da existência da Escola da Pesca por amigos que começaram a desenvolver trabalhos e projetos na comunidade em que vivia.“O meu maior sonho sempre foi me tornar um engenheiro de pesca, e eu vim para a escola porque sei que ela vai me proporcionar grandes oportunidades no mercado de trabalho. Digo isso porque muitos alunos que estudaram aqui hoje já estão trabalhando na indústria pesqueira”, diz o estudante.
A vida estudantil de Ítalo melhorou muito após a mudança para a Escola da Pesca, pois as aulas tratam de temáticas do interesse do rapaz. “Antes eu não gostava muito de estudar, agora eu até me empenho mais, os professores são muito legais e eu aprendo fácil com eles”.
A coordenadora de projetos Katiucia Bittencourt fala sobre a integração dos profissionais da escola com os alunos e da participação na vida deles. “Passados os 15 dias, após os alunos retornarem as suas famílias eles não deixam de ser assistidos por nós. Professores, engenheiros e pedagogos vão a cada ilha de cada aluno para verificar se o que foi aprendido em sala está sendo posto em prática e se o aluno está tendo alguma dificuldade”.
Em 2015 a Escola teve a primeira turma de nível médio formada. Vinte jovens se tornaram técnicos em recursos pesqueiros. Oito desses profissionais já estão trabalhando em empresas do ramo e outros estão desenvolvendo trabalhos autônomos nas suas comunidades.
Para Ítalo Sodré, a qualificação na escola da pesca é a esperança de um futuro melhor para ele e a família. “A vida na ilha é meio difícil. a gente tira a maior parte do nosso sustento na pesca. Eu tenho certeza que os conhecimentos que estou tendo aqui na escola irão ser aplicados onde eu vivo. Assim vou poder ajudar todo mundo”.