O autônomo Ademir da Silva, 64, morador da Rua Yamada, no Bengui, já não sabia o que fazer com tanto lixo eletrônico que foi deixado pelo antigo inquilino na frente da sua casa. "Os carroceiros vieram aqui perguntar se podiam levar, mas fiquei desconfiado de que eles iam jogar tudo ali no meio da rua e preferi esperar para achar outra solução", relatou Ademir.
A solução para o Ademir chegou no final de semana, quando mais de 100 agentes de limpeza e 30 caçambas da Prefeitura de Belém iniciaram uma grande operação de coleta de entulho na Rua Yamada e comunidades do Bengui, Parque Verde, Jurunas, Condor e parte da Cidade Velha.
Nestes bairros, dados da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), apontam grande quantidade de descarte irregular de lixo e entulho. Em toda a cidade são quase 600 locais em vias públicas e margens de canais, normalmente utilizados para depósito irregular.
Na Rua São Miguel, no Jurunas, a moradora Ana Lúcia Campos, 54, aproveitou o mutirão para se livrar de entulhos de construção que já a incomodavam há mais de um mês. "Depois da reforma do banheiro ficaram umas lajotas que o carro do lixo não podia levar. Armazenei em sacos grandes para não fazer volume. Essa semana ouvi o carro-som passar avisando desse serviço de limpeza", contou.
Em dois dias de mutirão foram recolhidas mais de 1400 toneladas de materiais como resto de construção, eletrônicos, pneus, poda de árvores e lixo proveniente da limpeza de quintais.
De acordo com o titular da Sesan, Thalles Belo, esse volume de 1400 toneladas representa um acréscimo significativo em relação à média diária retirada pela prefeitura que é 500 toneladas. "Mesmo não sendo atribuição do município recolher esse tipo de material, conforme determina a Lei (Nacional de Resíduos Sólidos), a Prefeitura atende sobretudo a população que reside em áreas periféricas com esse serviço", explicou.
O secretário de Saneamento concluiu que concentrar esforços em determinada área facilitou a operação e melhorou os resultados. "Conseguimos com a mesma quantidade de caçambas ampliar o volume de material recolhido. Utilizamos carro-som durante a semana orientando os moradores a colocar o entulho na porta da casa que iríamos passar para recolher. Percebemos uma adesão muito forte da comunidade, que atendeu prontamente, limpando os quintais e colocando pra fora diversos tipos de materiais para serem levados", destacou o secretário, ressaltando que, caso não fossem recolhidos, certamente esses materiais seriam jogados na via pública.
O objetivo da Prefeitura é ampliar essa ação para outros bairros, reduzindo a quantidade de lixo na via pública e eliminando locais de procriação de focos de doenças, como do mosquito que transmite dengue, zika e chikungunya. A partir desta semana, de forma experimental nos bairros atendidos pelo mutirão, serão implantados roteiros de coleta em dias específicos para a retirada de entulho, a exemplo do que já acontece na coleta do lixo domiciliar.
Reciclagem
Nem tudo era lixo. Parte dos materiais descartados pelos moradores tem valor econômico e pode ser vendido para a reciclagem ou reaproveitamento.
Para a agente ambiental da Cooperativa de Catadores Concaves, Adriana Fonseca, 30, a participação dos moradores é fundamental neste tipo de ação. "Muitos moradores já sabem como funciona a coleta seletiva e pediam informações sobre opções de onde entregar o material. Neste mutirão recolhemos muitos jornais,livros, e até uma geladeira com defeito que pode ser consertada e vendida", comemorou.
Serviço
Para o registro de denúncias sobre despejo irregular de lixo, a população pode ligar para o número 156 de qualquer telefone fixo.
