Todos os dias eles acordam cedo e retiram das ruas de Belém mais de 1800 toneladas de lixo domiciliar e entulho. Paulo Cezar, 39, William Guimarães, 50, Kleberson Lima, 24, e Francisco Souza, 52, são garis incansáveis na atividade de limpeza da cidade. Cada um percorre, em média, 20 quilômetros diariamente, para recolher o lixo deixado nas portas das casas, praças, ruas e calçadas pela população.
Nesta terça-feira, 16, Dia do Gari, a data será celebrada com mais um dia de trabalho intenso para esses e outros 1500 agentes de limpeza urbana, que atuam nas três empresas contratadas pela Prefeitura de Belém para coleta do lixo doméstico, hospitalar e de espaços públicos da capital. Eles também recolhem entulho e resíduos de varrição, lavagem das ruas, capinação, roçagem e dragagem de canais.
Há mais de 30 anos na função, William Guimarães diz que não consegue se ver em outra atividade. “Quase ninguém acredita nesta história, mas trabalhar na limpeza das ruas era um sonho da adolescência. Eu vendia bombons em uma parada de ônibus quando conheci um antigo colega que já trabalhava coletando lixo das ruas. Lembro que perguntei para ele se não tinha uma vaga pra mim. Foi assim que comecei a trabalhar como gari no ano de 1987, e nunca mais parei”, relembrou.
Desde o mês passado, o experiente William ganhou um novo parceiro de trabalho. Klebersom Lima fazia bicos de vigilante noturno, mas não tinha uma renda fixa. “Eu precisava de um local para trabalhar com carteira assinada e com uma renda certa no final do mês. Eu já tinha um pouco de experiência, pois trabalhei por um tempo com varrição de ruas”, explica o gari que se diz satisfeito com a nova função. “A primeira grande dificuldade foi entrar no ritmo da equipe que percorre a cidade para retirar o lixo da rua e encher o caminhão. Já estou 5 kg mais magro”, sorriu.
Aos 52 anos, Francisco Souza conta com orgulho que o trabalho como gari o ajudou a criar os dois filhos: Francisco e Bianca, hoje com 21 e 18 anos, respectivamente. “Eu sempre lutei para que meus filhos pudessem ter maiores oportunidades do que eu tive. Estudei até o ensino fundamental, mas busquei trabalhar de forma séria para que eles tivessem condições de estudar e buscar um trabalho com melhor salário”, destacou o trabalhador.
Paulo Cesar é o motorista da equipe que, na manhã desta segunda-feira, 15, percorreu vias dos bairros do Guamá e Cremação. “Fazemos esse percurso todas as segundas, quartas e sextas. Nos dias de terça, quinta e sábado percorremos somente o bairro da Terra Firme”, explicou. Para ele, que trabalha na função há 16 anos, o grande desafio é poder contar com a paciência de algumas pessoas. “Tem gente que não entende que estamos trabalhando para o bem da própria comunidade. Quando entramos em uma rua estreita não tem como manobrar e o ritmo do caminhão segue lento conforme a coleta vai avançando. É aí que começa o buzinaço”, relata, em referência aos motoristas apressados que fazem barulho tentando apressar o serviço de coleta.
A dona de casa Osmarina Pantoja, 62, é moradora da Rua dos Pariquis, próximo da Av. Generalíssimo Deodoro, na Cremação, onde a equipe de limpeza passou nesta segunda-feira, por volta de 10h da manhã. “A primeira coisa que faço depois de tomar café da manhã é colocar o lixo em sacolas. Arrumo tudo aqui na frente de casa com bastante cuidado. Tem umas pessoas que jogam ali na esquina e fica parecendo um lixão. Acho isso muito errado já que o caminhão passa na porta de casa para fazer a coleta. Não tem sentido ir despejar o lixo na porta de outras pessoas”, reprovou a dona de casa. “Acredito que essa educação ambiental deveria ser tratada nas escolas, porque o cidadão que cresce já com essa consciência vai poder agir de forma correta com o lixo, e assim, vai poder ajudar neste trabalho de limpeza que é tão importante para a cidade”, considerou.
A limpeza urbana é, hoje, um dos maiores investimentos da Prefeitura de Belém. Três empresas possuem contrato para a realização do serviço de manutenção urbana em Belém, distritos e também nas ilhas. O custo médio mensal fica em torno de R$ 10 milhões. “Esses profissionais atuam de forma exemplar. É um trabalho fundamental para a cidade, uma vez que sem eles não teríamos condições de saneamento”, ressaltou o titular da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), Thalles Belo. “A coleta do lixo domiciliar é uma atividade diária realizada em toda a cidade. Infelizmente, muitas pessoas só percebem a real importância deste serviço quando ele deixa de ser realizado. Um exemplo é o recente caso de bloqueio no local de destinação final, quando por alguns dias a coleta ficou comprometida e muito lixo ficou espalhado pelas ruas, causando um verdadeiro transtorno em toda a cidade”, lembrou o secretário.
O salário inicial do gari é de R$ 1.232,12. O motorista do caminhão ganha de R$ 2.391,42. A carga horária desses trabalhadores é de até 8h diárias, pode ser no turno da manhã, tarde, noite, ou madrugada.