A Semana do Bebê chega a 6ª edição em Belém e traz para o centro de debates e palestras um tema que na última semana voltou a ser assunto nos telejornais do país: o aumento da obesidade no Brasil. Segundo dados apresentados pelo Ministério da Saúde, os índices de obesidade aumentaram em 60% nos últimos dez anos. E quando se trata de obesidade infantil, um relatório preparado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que 7,3% das crianças menores de cinco anos estão acima do peso. Com este cenário, quais medidas podem ser tomadas para garantir que as crianças brasileiras tenham um desenvolvimento mais saudável e uma alimentação mais equilibrada?
A nutricionista Ana Laura Paraguassu, da Coordenação das Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (Copsan), explica que em Belém um projeto de prevenção da obesidade infantil já vem sendo desenvolvido na rede municipal de ensino. É nas escolas, através de rodas de conversa com os pais, trabalhos em grupo com professores e alunos da rede, e levantamento do estado nutricional dos estudantes, que começa o incentivo a uma alimentação mais equilibrada e natural.
Para a Semana do Bebê, essa programação, que já acontece ao longo do ano, ganhou contornos maiores, indo além das salas de aula. Um evento especial foi preparado visando incentivar uma melhor alimentação por parte das mães, desde a gravidez até a amamentação, e durante os primeiros anos das crianças. “Tudo começa na barriga da mãe, o que a mãe come vai influenciar para que essa criança tenha hábitos mais saudáveis, assim como uma mãe que não tem suplementação adequada de ferro e ácido fólico poderá ter uma má formação fetal”, explicou a nutricionista Glenda vidal, que garante ainda que uma criança que tem contato precoce com açúcar e doces, antes dos 2 anos de idade, é mais propensa a desenvolver dependência desses alimentos.
A dona de casa Rafaela Araújo Gonçalves, de 26 anos, mãe de Leander, de 1 ano, Renan, de 4 anos, e Élida, de 7, fez questão de tirar um tempo na sua rotina agitada para participar de uma palestra que aconteceu no Cras (Centro de Referência e Assistência Social) da Cremação, nesta terça-feira, 23, como parte da programação da Semana do Bebê.
A palestra tratava sobre a importância de uma boa alimentação das mães durante a amamentação, os benefícios do leite materno, e sobre como e quando introduzir alimentação complementar ao leite para as crianças, dando preferência para alimentos não industrializados. “Ainda estou amamentando o Leander e graças a Deus ele come bem. Mas acho que a gente sempre aprende algo a mais nessas palestras. Sempre que tem procuro vir e trazê-los também, porque a minha filha mais velha já entende bem e vai aprendendo”, afirmou.
Durante a palestra no Cras da Cremação, as mamães e futuras mamães puderam fazer também uma experimentação de papinhas naturais, criadas por nutricionistas da Esamaz – Escola Superior da Amazônia.
“São coisas que elas podem fazer na casa delas e fornecer um alimento mais saudável para os filhos, para que assim essas crianças consumam o açúcar natural da fruta e sal na menor quantidade possível”, destacou a nutricionista Glenda.
Na Escola Municipal Maria Luiza Pinto Amaral, no bairro da Sacramenta, o tema da 6ª Semana do Bebê foi abordado diretamente com os estudantes. De sala em sala, os educadores físicos da Secretaria Municipal de Educação (Semec), Antônio Carlos Gomes Freire Junior e Elizabete Gouveia, usaram elementos do dia-a-dia das crianças para explicar como ter uma vida mais saudável. Com exemplos como o refrigerante e esquilhos, eles apontavam os excessos que podem gerar futuros obesos.
“Nosso objetivo é fazê-los pensar mais sobre isso. Existem taxas muito altas, hoje em dia, de raquitismo e obesidade mórbida entre as crianças, dois extremos ocasionados por um mesmo fator, uma alimentação errada”, alertou o educador físico, Antônio Carlos Gomes Freire Junior, que procura incentivar hábitos alimentares saudáveis não só na escola, mas também dentro de casa.
“Sou pai e já vivi isso em casa. Minha esposa parou de tomar refrigerante justamente durante a gestação do nosso filho Ian – hoje com três anos -, pois sabia que aquilo faria mal para ele. E acabou que ela também se livrou daquela dependência”, revelou.
Aluna do 5º ano da Escola Maria Luiza Amaral, Sarah Rebeka Cunha, de 10 anos, acompanhou a palestra e confessou que em casa só come salada se a mãe obrigar. “Ela diz pra eu não comer muito sanduíche, refrigerante, e coloca salada no meu prato”, disse a menina, cujo prato preferido é carne com arroz e feijão. Cardápio aprovado pelos educadores, que assim como a mãe da menina, também recomendaram a adição de vegetais.
A 6ª Semana do Bebê segue até sábado, 27, com programação em diversos pontos da cidade, incluindo postos de saúde, unidades de educação infantil, escolas e muito mais.