Mito, curiosidade e orientação. Estes são alguns dos temas abordados em uma conversa onde o assunto ainda gera discriminação: a Aids. Com o intuito de chamar a atenção da população sobre a importância de prevenir e combater o vírus HIV, a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), deu início nesta quinta-feira, 30, a campanha “Dezembro Vermelho – Aliança pela Vida”, com uma palestra no Cinema Olympia.
“Beijar pode, manter relação sexual também, mas com preservativo. O vírus não se pega por usar o mesmo talher ou beber no mesmo copo, estes são alguns mitos que as pessoas ainda carregam consigo. Tenho Aids e levo uma vida normal, e o que me proporciona isso, sem dúvida, são os medicamentos e vitaminas que tomo”, declarou o jovem Geovanne Lima, 25 anos, um dos palestrantes do evento.
Geovanne descobriu que é portador do HIV aos 21 anos, em um exame de testagem, como sempre costumava fazer. “Sempre que fazia os exames, recebia o teste numa boa, mas em 2014 foi diferente, me ligaram e pediram para refazer, porque havia tido alguma alteração. Ali mesmo eu senti que era soropositivo. No início foi um susto, mas aprendi a conviver com isso e a me cuidar para ter uma vida normal. É essa mensagem que transmito por onde quer que eu vá. As pessoas precisam fazer o teste sem medo, e procurar auxílio depois disso. Eu namoro, trabalho, pratico esporte, vivo!”, salientou o jovem.
Campanha - Ao longo do mês de dezembro, até o dia 31 de março de 2018, a Sesma intensificará as programações em parceria com diversas entidades públicas e privadas, em shoppings, escolas e unidades de saúde, para o enfrentamento do HIV/Aids e outras infecções sexualmente Transmissíveis (ISTs), com ações de prevenção, diagnóstico, testagem para HIV, Sífilis e Hepatites B e C, proteção e promoção dos direitos humanos das pessoas vivendo com HIV/Aids.
De acordo com o gerente do Centro de Atenção à Saúde nas Doenças Infecciosas Adquiridas (Casa Dia), Reginaldo Junior, o evento seguirá até o carnaval para que o tema seja cada vez mais disseminado. “Nossa ideia é fazer com que haja um grande debate no município de Belém, e que as pessoas possam falar sobre o diagnóstico, tratamento e da prevenção do HIV/Aids”, afirmou.
Em 2016 foram notificados 874 novos casos de Aids em adultos residentes na capital paraense. Já em 2017, até o mês de outubro foram notificados 1.389 novos casos de Aids em maiores de 18 anos. “Estes números são importantes, pois a testagem está presente em todas as Unidades Básicas de Saúde de Belém, e nosso objetivo não é dizer que estamos em busca de pessoa infectadas, na realidade estamos descobrindo o diagnóstico mais recente, que nos possibilite dar o tratamento e acompanhamento ao munícipe dentro do Casa Dia”, explicou o gerente.
Dentro da programação de lançamento foram ministradas palestras com Helena Brígido, médica infectologista; Liah Corrêa, psicóloga e ativista do movimento social de luta contra a Aids; e Cristina Carvalho, defensora jurídica das pessoas que vivem com HIV.
Para o secretário municipal de Saúde, Sérgio Amorim, a campanha, de nível nacional, demonstra o trabalho que a Prefeitura de Belém tem feito junto aos portadores de HIV/Aids e doenças sexualmente transmissíveis. “O Casa Dia é uma vertente para tratar os portadores de HIV, e isso é muito gratificante para nós. Além disso, o fortalecimento com os movimentos sociais, que participam ativamente das nossas ações, têm nos auxiliado a conscientizar a população de que temos o serviço disponível para pessoas portadoras do vírus”.
Lourdes Barreto é coordenadora do Grupo de mulheres prostitutas do Estado do Pará (Gempac), que é uma das pessoas que há décadas luta no combate ao vírus, avaliou a campanha em Belém como fundamental para a conscientização desde os mais jovens, até os mais experientes. “Eu não vivo com o HIV, mas convivo com pessoas portadoras dele, e a informação é fundamental. O ‘Dezembro Vermelho’ retrata toda a situação que estamos vivendo, e nós vamos disseminar isso durante o trabalho da noite. Essa campanha vai dar um tom de avanço para o uso do preservativo”.
Consciência - Os jovens universitários, Mateus Mendes, 21 anos, e Ego Henrique Carvalho, 29 anos, acreditam que as ações de conscientização, são importantes para tirar o estigma sobre a doença. “Os avanços da medicina estão aí para provar que, ser portador do vírus não é sinônimo de morte, pelo contrário, há uma vida inteira pela frente. Sabemos que muitos jovens são acometidos da doença e poder falar disso abertamente é fundamental”, disse Ego. “As pessoas têm medo por não conhecerem a doença, o que mata é o preconceito. E estar em um evento com muita gente nova é bom para tirar esse mito”, completou Mateus.