Conversar com pessoas vítimas de algum tipo de trauma, violência, pode ser um verdadeiro desafio, principalmente quando a vítima é uma criança, situação enfrentada diariamente no Espaço de Acolhimento Euclides Coelho Filho, da Fundação Papa João XXIII (Funpapa), que recebe, cuida e dá apoio psicossocial para meninos e meninas de zero a seis anos, encaminhados pelo Conselho Tutelar e pela Vara da Infância e Juventude, após constatação de abandono ou de negligência familiar.
Uma forma de facilitar a comunicação com as crianças são as brincadeiras e atividades lúdicas. Por isso, o abrigo recebeu nesta quarta-feira, 23, um ambiente especialmente preparado para o desenvolvimento de ações voltadas aos aspectos cognitivo, emocional, social e psicomotor, de forma que a criança não se sinta invadida, mas possa se manifestar como numa brincadeira. O trabalho será desenvolvido por uma equipe multidisciplinar, formada por profissionais da Funpapa.
Segundo a coordenadora do espaço, Luzinete Silva, o espaço lúdico será uma espécie de instrumento para buscar informações que muitas vezes a equipe social tem dificuldades de obter durante as entrevistas com as crianças retiradas de situações de risco. Ela explica que foram pensados o ambiente e a forma de abordagem para estimular o desenvolvimento da fala, a segurança e a confiança de quem vive em situação de acolhimento institucional.
Para a professora Celina Magalhães, do Núcleo de Pesquisa de Comportamento da Universidade Federal do Pará (UFPA), as interações realizadas por meio das atividades lúdicas contribuem para o melhor desempenho das crianças, fazendo com que elas sintam-se à vontade para falar e aceitar tratamento das difíceis experiências emocionais vividas. Segundo ela, “para um acolhimento de qualidade é necessário que essa criança possa interagir com os outros”.
Na cerimônia de entrega do espaço, estiveram presentes a presidente da Funpapa, Adriana Azevedo; a promotora da Infância e da Juventude Socorro Pamplona, representando o Ministério Público do Estado, profissionais da UFPA e servidores do abrigo.
Adriana Azevedo afirmou que a parceria com a UFPA é importante para o desenvolvimento de melhorias no espaço e também no atendimento prestado às crianças abrigadas, que segundo ela, “necessitam de amor e carinho”, sentimentos agora manifestados também na estrutura do próprio espaço de acolhimento e pelos educadores sociais, assistentes sociais, pedagogos, terapeuta ocupacional e psicólogos do abrigo.
O Espaço de Acolhimento Euclides Coelho Filho funciona 24 horas, inclusive sábados, domingos e feriados para proporcionar acolhimento até que seja possível o retorno à família de origem ou a uma substituta. Durante a Medida Protetiva de Acolhimento é desenvolvido trabalho de acompanhamento psicossocial com as famílias objetivando a recuperação da relação e do convívio familiar. O abrigo tem capacidade para atender 20 crianças e, atualmente, tem oito sob proteção, a maioria delas, abandonadas pelos pais.