Poderia ser mais um dia de rotina no Espaço de Acolhimento Dulce Accioli, mantido pela Prefeitura de Belém, por meio da Fundação Papa João XXIII (Funpapa), mas aos poucos, uma movimentação diferente se nota. As crianças estão ansiosas, agitadas e sorrindo à toa, porque a manhã desta sexta-feira, 25, foi muito especial para todas elas, bem mais importante para a menor de idade, I. M., que realizou o sonho de ter uma festa pelos 15 anos, que ela completou na mesma data, e que foi organizada pelos funcionários do abrigo.
A menina ganhou uma festa na dimensão do sonho que tinha e que comentou no abrigo, onde todos não mediram esforços para torná-lo realidade. Abrigada há cerca de um ano no espaço, a adolescente aprendeu a dançar valsa, após muita dedicação, mas optou pela música tema da animação dos estúdios Disney, “A Bela e a Fera”. “Eu já vi esse desenho muitas vezes, e essa música me deixa muito feliz. Gosto demais dela”, comentou a menina.
Para que I. dançasse a valsa com desenvoltura, a garota recebeu instruções dos funcionários e treinou com cada um dos 14 companheiros no abrigo Dulce Accioli, que recebe meninos, meninas e até bebês, que estão sob medida protetiva e recebem acolhimento institucional, numa proposta pedagógica que busca fortalecer a autoestima e auxiliar na construção de uma identidade psicológica e social sem traumas.
O abrigo proporcionou a I., além da festinha de aniversário, a valsa, fotos e um vestido de festa branco, longo, típico dos que são usados pelas debutantes. Houve também ajuda de um profissional que fez a maquiagem e arrumou o cabelo da menina. Ela ficou radiante. “Eu comentei que o meu sonho era ter uma festinha de 15 anos, mas nunca pensei que poderia acontecer. Eu estou feliz porque usar um vestido assim, ser arrumada, ficar bonita, era um sonho distante, mas que estou realizando. É uma felicidade, mesmo”, comemorou a adolescente.
Festa - A festa dos 15 anos de I. teve a participação do prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, que visitou o abrigo para o encerramento das atividades em comemoração à Semana do Folclore do espaço. As crianças apresentaram um trabalho sobre a Matinta Pereira e dançaram uma música de carimbó, vestindo o traje típico desse ritmo paraense.
Mas o ponto alto foi quando I. dançou a valsa com o prefeito e com os tios e primos que vieram prestigiar a festa dos 15 anos da menina. Na hora dos parabéns, a adolescente, que até então resistia bravamente às lágrimas, deixou a emoção chegar, chorou e sorriu, ao mesmo tempo. As crianças fizeram coro, gritando o nome da menina, celebrando ainda mais, para em seguida, todos saírem correndo porque era o momento de cortar e comer o bolo de aniversário.
Zenaldo Coutinho se disse feliz e honrado em participar desse momento no abrigo Dulce Accioli. “Nossos servidores da Funpapa recebem essas crianças e adolescentes que estão impossibilitadas momentaneamente de ter uma vida em família, e aqui elas passam a ter essa noção de relação familiar. E coincidiu de estarmos aqui, na festa dos 15 anos dessa mocinha, o que me deixa emocionado e muito honrado. Temos nessa área social da prefeitura um trabalho continuado e constante, integrado com o Judiciário, mas que tem o tempero do amor e carinho de cada um de nossos servidores, para que possamos ajudar a construir um futuro brilhante, que é o que desejamos a cada um desses jovens”, observou o prefeito.
Abrigos - A Funpapa mantém sete abrigos dentro do município de Belém, que atendem crianças de faixas etárias diferenciadas, como os de 0 a 6 anos, apenas de adolescentes e os de 7 a 12 anos. O Dulce Accioli, que tem atendimento nas 24 horas do dia, recebe os que estão na faixa etária de 12 a 18 anos incompletos e também adolescentes com filhos, e assim, são abrigados a mãe e os bebês.
O espaço também recebe jovens de outros municípios paraenses, e atualmente, abriga oriundos de Parauapebas, Soure e Benevides. Toda a articulação é feita via Vara da Infância e Juventude, por meio de contatos entre Conselhos Tutelares, instalados nos municípios. Os abrigos recebem, cuidam e dão apoio psicossocial para meninos e meninas em situação de risco, após constatação de abandono ou de negligência familiar.
As crianças ficam no abrigo, estudam, participam de atividades de lazer e são assistidas por uma equipe técnica multidisciplinar que envolve pedagogos, assistentes sociais, psicólogos, técnicos de desporto e lazer e educadores sociais, além de zeladores, cozinheiros e outros. A permanência no abrigo depende sempre de cada caso, mas a intenção é sempre que esse abrigado retorne ao convívio da família de origem, e, caso isso não seja possível, há o encaminhamento a uma família substituta.
“Recebemos crianças que tiveram seus direitos violados, sofreram algum tipo de violência física e sexual e que estão sob medida protetiva. Todas tiveram o acolhimento do Judiciário e passam à nossa responsabilidade, enquanto espaço de acolhimento”, explicou a presidente da Funpapa, Adriana Azevedo.
“Os abrigos são também espaços de realizações de sonhos, como o que tivemos com essa adolescente. E neles nos empenhamos bastante. A festa foi muito especial e contamos com a parceria de muitos, mas não deixamos de fazer uma conscientização com os outros abrigados, para que eles tenham o sentido de valorizar o que têm aqui, nesse acompanhamento que buscamos sempre melhorar”, completou Adriana.
Denúncias sobre maus tratos e violência contra crianças e adolescentes devem ser relatados a um Conselho Tutelar. Em Belém eles são oito, localizados nos bairros da Cremação, do Cruzeiro (em Icoaraci), do Souza, da Pedreira, de Outeiro, de Mosqueiro, do Bengui e de Nazaré.