É também no distrito de Mosqueiro, em Belém, na comunidade do Carananduba, que está localizado o Lar Acolhedor da Tia Socorro. Criado por dona Maria do Socorro Rodrigues Pereira, a hoje saudosa Tia Socorro, falecida em 6 de julho deste ano, aos 52 anos de idade. É lá que cerca de 40 crianças, adolescentes, portadores de necessidades especiais e jovens em situação de risco ou de abandono são acolhidos e encontram uma nova oportunidade de crescimento.
O Lar que foi criado 27 anos atrás, se mudou para Mosqueiro em 2014. Pela vontade da Tia Socorro, de lá não deve se mudar mais, pois foi na ilha que ela encontrou espaço para construir os três prédios que formam hoje o complexo, composto de uma casa para crianças e adolescentes, uma república para jovens, e outra casa para portadores de necessidades especiais. No Lar Acolhedor da Tia Socorro esses jovens encontram seu próprio lar, um espaço para viver, brincar, receber carinho e com apenas uma obrigação diária, estudar.
À epóca da realização da entrevista para esta reportagem,Tia Socorro explicava que optou pela educação na rede municipal para todos os jovens que habitam no Lar. O motivo, nas palavras dela: “eu gosto muito das escolas da rede municipal daqui, do ensino, da organização, por isso prefiro que eles estudem lá”. Algumas das escolas escolhidas por ela foram a Maroja Neto, Abel Martins, e a Unidade de Educação Infantil Municipal Rotary, que também fica localizada na Comunidade do Carananduba.
A UEI Rotary é uma das 42 escolas da rede municipal que conta com uma horta escolar e desenvolve o projeto Educando com a Horta Escolar e a Gastronomia. Um projeto que tem se mostrado cada vez mais importante para todos que vivem no Lar Acolhedor da Tia Socorro, pois tem disseminado conhecimento para toda a comunidade do Carananduba a respeito da implantação e manutenção de hortas domiciliares, assim como a que Tia Socorro decidiu implantar no espaço no início do ano passado.
“Com a horta domiciliar a gente chama a comunidade para a escola. A gente usa o espaço para capacitá-los, enquanto eles aproveitam para conhecer o trabalho dos filhos deles na escola. A gente incentiva também que eles possam ver nisso uma forma de sustento para a família”, diz a engenheira agrônoma Rosana Costacurta, da Fundação Municipal de Assistência ao Estudante (Fmae).
A nutricionista Denise Cruz Oliveira, também da Fmae, explica que são realizadas palestras e rodas de conversa para incentivar as famílias a se alimentarem de forma mais saudável, e a implantação da horta domiciliar é uma dessas alternativas.
Na comunidade Vale do Paraíso, o vigilante Manoel Farias da Silva Junior, de 32 anos, estimulado por essas conversas e pela horta na escola dos filhos - na escola Municipal Maria Madalena Travassos -, já considera a horta domiciliar como uma nova forma de sustento para a família. “Penso em um dia ter uma horta na minha casa. Além de ser um passatempo bom, a gente teria uma renda extra. Por enquanto tenho aproveitado para pegar uma experiência com eles aqui”, confessa sorrindo.
Enquanto isso, no Lar Acolhedor da Tia Socorro, esses aprendizados já foram colocados em prática e a horta, que é mantida por todos do Lar, é utilizada tanto para a alimentação como para adquirir uma renda extra, vendendo o excedente.
Yan de Souza Piedade, de 13 anos, é um dos adolescentes que vive no Lar. Ele estuda na Escola Municipal Abel Martins e, quando não está estudando, gosta de ajudar na colheita da horta, de onde já pode colher em abundância couve, cheiro-verde, alface, quiabo e chicória. O prato preferido de Yan é o tradicional açaí com peixe frito, bem temperado. “Eu gosto muito de cheiro-verde e chicória, deixa a comida mais gostosa”, diz o menino.
Tia Socorro se orgulhava em dizer que todos os adolescentes e jovens que moram no Lar não lhe davam problemas para se alimentar, pois sempre comeram bastante verdura, legumes, frutas e ervas, e a sopa sagrada de todas as noites. “Eu acho ótimo esse projeto, com a escola dando todo esse subsídio para eles aprenderem, porque assim eles vão sair de lá profissionais”, afirmava ela, destacando também os valores ensinados pelo projeto. “É um incentivo para eles terem integridade, para aprender que não é só receber, mas também fazer, plantar, cuidar e ter responsabilidade”.
Educando com a Horta Escolar e a Gastronomia - O projeto Educando com a Horta Escolar e a Gastronomia foi implantado pela Prefeitura Municipal de Belém em 2013 e já melhorou a qualidade de vida de cerca de 10.500 alunos da rede municipal.
Atualmente 42 escolas da rede utilizam o projeto não só para ensinar as crianças, mas também incentivar toda a comunidade a ter nas hortas uma forma de segurança alimentar e financeira. A expectativa é que este ano o projeto seja ampliado, passando a atender 58 escolas do município.
Texto: Kennya Correa