Com idades entre cinco e seis anos, os estudantes da Unidade Pedagógica Santo Agostinho da Aldeia, do bairro de Canudos, só conheciam a esgrima pela televisão, principalmente pelos desenhos animados. Este ano, a luta passou a fazer parte do cotidiano deles nas aulas de Educação Física do professor Pedro Brandão, que trouxe para a escola novas formas de trabalhar o desenvolvimento corporal dos alunos.
As atividades iniciam com a teoria, passando por toda a história do desporto, até as noções práticas da luta. Os alunos também participam de oficinas e confeccionam as espadas, os coletes e as máscaras necessários para a prática de esgrima. Para isso, usam materiais que iriam para o lixo e que são de fácil acesso e baixo custo, como papelões, jornais e pedaços de plástico.
A estudante do 1º ano, Emilly Reis, de seis anos, é só entusiasmo e dedicação nas aulas. “Muito legal aprender mais sobre a esgrima, como se posicionar, saber os movimentos e ainda poder a gente mesmo fazer os equipamentos. Acho que eu tenho jeito”, avalia a aluna.
Dentre os objetivos da oficina está o desenvolvimento da noção de disciplina e o aprendizado das estratégias utilizadas na esgrima. O professor Pedro Brandão, que está fazendo Mestrado de Currículos da Educação Básica, explica que, com a prática desse esporte nas escolas, as crianças desenvolvem poder de decisão, sendo capazes de atuar com rapidez e eficiência, além de se tratar de uma atividade física completa, que trabalha força, resistência e velocidade.
“A Educação Física é uma disciplina como todas as outras, na qual é importante que o aluno estude e pesquise. Está ligada a formação humana e precisamos sempre melhorar a prática pedagógica facilitando o acesso dos alunos ao amplo conhecimento da cultura corporal. Além disso, envolver os alunos em atividades assim mostra um prazer maior deles em aprender”, destaca o professor.
Ano passado, Pedro e seu orientador no mestrado, o professor Márcio Raiol, produziram junto com os alunos de Educação Física da UFPA um e-book chamado "Lutas do mundo na escola", com planejamentos e aulas para trabalhar as diversas lutas no universo escolar. O livro foi disponibilizado gratuitamente para os professores da rede municipal e qualquer professor que se interesse pelo tema também pode ter acesso.
Além das lutas, o professor trabalha outras modalidades com os alunos, como a ginástica, as danças, os jogos e os esportes. Já foram praticados o atletismo, corridas, arremesso de peso, jogos de tabuleiro, sempre com a participação dos estudantes na confecção dos materiais utilizados nas atividades.
A metodologia que encantou a escola trouxe benefícios visíveis também aos alunos com deficiência, promovendo uma maior interação destas crianças e melhorando a concentração e a coordenação motora.
A dona de casa Aurea Rodrigues, 37, mãe do aluno do José Felipe Trindade, de nove anos, assistiu orgulhosa o empenho do filho, que tem paralisia cerebral, ao lutar esgrima. “Fico tão feliz em ver como meu filho evoluiu nessa escola e com atividades como essa vejo muitos avanços nele. Hoje ele se movimenta melhor, aprendeu a correr, pegar nos objetos com mais segurança, a escrever e falar melhor”, conta Aurea, emocionada, completando: “Isso não tem preço para uma mãe que batalha diariamente pelo desenvolvimento e bem estar de uma criança especial. Essa escola acolheu a mim e ao meu filho de uma forma incrível, pra mim é como se fosse nossa segunda casa”.
Para a diretora da UP Santo Agostinho da Aldeia, Luciane Miranda, isto é a escola cumprindo seu papel na formação e inclusão dos pequenos cidadãos, proporcionando aos alunos maneiras diferentes de aprender e assimilar os conteúdos abordados.
“O professor Pedro veio colaborar de maneira muito didática e eficiente no aprendizado dos nossos alunos, com aulas perfeitamente contextualizadas, que fogem do tradicional e que prendem a atenção das crianças, isso tem refletido não somente na maior participação dos alunos, como também na assiduidade deles na escola. Agora ninguém quer mais faltar as aulas de educação física”, comemora Luciane.