Pesquisar

Assistência social do município atendeu mais de 2.400 pessoas em um ano

Foto: João Gomes / COMUS
Assistência social do município atendeu mais de 2.400 pessoas em um ano
Assistência social do município atendeu mais de 2.400 pessoas em um ano
Assistência social do município atendeu mais de 2.400 pessoas em um ano
Assistência social do município atendeu mais de 2.400 pessoas em um ano

O podador João Roberto Cruz, de 67 anos, há quase um mês foi resgatado das ruas e recebe assistência em um abrigo da Prefeitura de Belém. Hoje, reconstrói a vida.

“Pra quem saiu de casa e tá na rua igual eu (sic), aconselharia que procurasse mudar de vida. Se for novo, que procure emprego, porque a vida de rua só leva pra duas coisas: morte ou cadeia. Eu tô velho, não tenho nada. Mas tenho dignidade. Faz oito anos que não uso drogas. Tudo o que eu pegava eu destruía por causa dela. Não me sobrava nem dez centavos no bolso. Meu objetivo ainda é vencer. Apesar da idade, eu não me entrego, não. Tenho fé em Deus que ele ainda tem alguma coisa pra fazer comigo”, afirma o podador João Roberto Cruz, de 67 anos, que há quase um mês foi resgatado das ruas e recebe assistência em um abrigo da Prefeitura de Belém.

Seu João integra a estatística de pessoas que a Prefeitura de Belém registrou nos atendimentos feitos pela Fundação Papa João XXIII (Funpapa). Ao todo foram mais de 2.400 pessoas atendidas entre os anos de 2016 e 2017, segundo o Relatório do Serviço de Vigilância Socioassistencial de Belém. Dessas, quase 800 pessoas foram encaminhadas para atendimentos à saúde, 347 tiveram acesso à documentação civil e 137 retornaram para o convívio da família.

Casado e pai de cinco filhos, seu João saiu de casa após conflitos familiares. O podador já havia sido acolhido há alguns anos, mas voltou para as ruas. “Passei uma ano e dois meses no abrigo da prefeitura. Lá eu consegui fazer operação no olho, fui tratado de uma tuberculose, me deram todo apoio, inclusive consegui um benefício pelo INSS. Foi quando meus filhos me procuraram e eu retornei pra casa, mas tivemos problemas de novo, então aluguei um quartinho, mas saquearam tudo o que eu tinha e ainda me ameaçaram. Voltei para as ruas. Foi quando a dona Vitória (da Funpapa) me viu e perguntou se eu queria ajuda novamente”.

O podador é um, entre dezenas de pais de família que saem de casa tentando fugir dos problemas, mas esbarram em outros ainda maiores, como a solidão e os perigos da rua. Seu João foi resgatado por uma das equipes do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) da Funpapa, local onde são atendidas famílias e pessoas que estão em situação de risco social ou têm seus direitos violados.

A dona Vitória a que o podador faz referência é Vitória Queiroz, coordenadora do Creas Rosana Campos, no Comércio, que faz abordagem social de pessoas em situação de rua. “Aqui nós trabalhamos com equipes multidisciplinares, que incluem técnicos, psicólogos assistentes sociais e pedagogos, entre outros profissionais. É um trabalho interessante. Eu, como assistente social, digo que nem sempre é fácil, nem sempre somos aceitos por eles (pessoas em situação de rua) tão facilmente. É um trabalho de conquista. Já sofrem tanto com os acontecimentos, que é normal se sentirem desconfiados”, conta a coordenadora.

É por meio dos Creas que a Prefeitura de Belém se aproxima das pessoas em situação de vulnerabilidade e oferta serviços como abordagem social de rua e atendimento para pessoas com deficiência, idosas e suas famílias. Atualmente, a capital paraense conta com cinco unidades do tipo.

O Serviço Especializado em Abordagem Social é ofertado de forma continuada e programada, não somente pelos Creas, como também pelo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), que tem a finalidade de assegurar trabalho social de abordagem e busca ativa para identificar não apenas pessoas em situação de rua, mas também ocorrências de trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, dentre outros casos.

Nos Centros Pops, após o acolhimento, o assistido tem garantidos higiene pessoal, alimentação e atividades socioeducativas em que são trabalhadas a autoestima e a valorização pessoal. Quando não retornam às famílias, por não terem ou quererem, são encaminhados aos abrigos. “O cidadão é dotados de livre arbítrio, e nós não podemos obrigá-los a permanecerem nos abrigos, nem nas residências. Este é um dos maiores trabalhos realizados nos Centros Pops, de fazer as pessoas perceberem que a rua não é lugar de ser humano, e que o convívio social é difícil, mais não impossível. Muitos deles acabam retornando às ruas, mas o trabalho da Funpapa se intensifica, para convencê-los a permanecerem no Centro para a continuação do trabalho psicossocial”, explicou Adriana Azevedo, presidente da Funpapa.

Na prática - Em Belém, as equipes desenvolvem ações em praças, espaços públicos, locais de intensa circulação de pessoas e existência de comércio, terminais de ônibus e outros. A ação na Praça da República, que recentemente foi entregue à população após 22 meses de obras de reforma geral, é um exemplo do trabalho desenvolvido pelas equipes da Funpapa.

"A Funpapa vem acolhendo com respeito e realizando os devidos encaminhamentos às pessoas em situação de rua que fazem da praça seu local de moradia, refletindo a necessidade da utilização da praça como espaço público e não privado. A equipe apresenta aos usuários os equipamentos de assistência da prefeitura", salientou Adriana.

Abrigos - Dos 292 homens e mulheres atendidos nas duas Casas Abrigos para Moradores Adultos de Rua (Camar I e II) da Prefeitura de Belém, no período de 2016 e 2017, 51 voltaram ao convívio familiar e 14 passaram a morar em casa alugada.

“Estas unidades buscam representar espaços de referência para o convívio grupal, social e o desenvolvimento de relações de solidariedade, afetividade e respeito entre as pessoas atendidas. O intuito é tentar proporcionar vivências para que eles alcancem a autonomia”, completou a presidente.

Existem inúmeros motivos que levam as pessoas para a rua, sejam conflitos no meio familiar, desemprego, decepções amorosas e, principalmente, a massificação do tráfico de drogas. A Prefeitura de Belém vem desenvolvendo ações para que o cidadão tenha acesso à assistência social, saúde, geração de emprego e renda e habitação.

“Nas ruas encontrei muito perigo, escapei de morrer duas vezes e fui roubado três. Levaram até minha identidade, óculos, mochila... Mas no abrigo me sinto mais seguro. Tenho um lugar onde botar a cabeça para dormir, tomar banho e fazer refeições. Eu agradeço por ser bem tratado. Lá todo mundo me abraçou, me acolheu. Sinto como se fosse meu lar”, afirmou seu João, que está novamente reconstruindo a vida.

Relacionadas: