Belém é a capital brasileira com o maior índice pluviométrico, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Com território formado por 39 ilhas e com 40% da superfície territorial abaixo do nível do mar, a capital paraense enfrenta grandes desafios com relação ao controle das águas que, em decorrência das marés e de chuvas intensas, alagam áreas baixas da cidade.
Como agravante, durante décadas parte da população passou a ocupar as margens dos canais, construindo residências dentro dos cursos de água, que ficaram impossibilitados de receber limpeza e garantir o escoamento. Nesses locais, existe ainda a presença de pontos de descarte criminoso de lixo, que com as chuvas são conduzidos para o canal e bloqueiam a passagem da água.
Os investimentos da Prefeitura de Belém para reverter esse quadro passam por obras de infraestrutura urbana, serviços de dragagem e limpeza de canais, manutenção de comportas e ações de educação ambiental para orientar moradores sobre o correto manejo do lixo.
Nos últimos 10 anos, três grandes projetos foram iniciados na área da Bacia da Estrada Nova, que tem uma população estimada em 220 mil habitantes. Desde 2014, a Prefeitura de Belém vinha buscando financiamento para a complementação da obra iniciada, recursos que foram alcançados no final do ano passado e que garantirão a continuidade dos projetos de macrodrenagem.
Sanear Belém – Cidade para todos, é o mais abrangente programa de saneamento da capital paraense e terá como incentivo para operação, recursos assegurados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), estipulados em 250 milhões de dólares – 125 milhões da Prefeitura de Belém e 125 milhões do banco -, para obras que vão impactar diretamente a vida de mais de 1 milhão de pessoas. Os recursos irão atender 13 bairros nos cinco anos de trabalho e incluem obras de macro e microdrenagem, construção de 51,4 quilômetros de rede do Sistema de Esgotamento Sanitário, Estação de Tratamento de Esgoto, Sistema de Comportas Hidráulicas para controle de alagamento, regularização de cerca de 4 mil imóveis, qualificação de 12 mil pessoas em educação ambiental e sanitária, além de 200 unidades habitacionais para reassentar famílias afetadas pelas obras, com previsão de outros cerca de 547 imóveis pelo Programa Minha Casa Minha Vida. Também serão construídas 240 unidades comerciais em um Centro de Comércio no Jurunas para reassentar atividades comerciais vulneráveis afetadas pelas obras. Na Bacia do Una, o programa prevê a reabilitação dos canais atendidos pela macrodrenagem, com a recuperação de pontes, passarelas, muretas e sistema viário.
Nesta primeira etapa, a Prefeitura de Belém está atuando no cadastro socioeconômico das famílias afetadas pelas obras. As informações vão subsidiar e orientar as ações na área e servir de base para o processo de remanejamento e reassentamento de moradores.
Limpeza de canais – Os serviços de dragagem de canais e limpeza na rede de drenagem urbana são realizados de forma permanente durante o ano inteiro e intensificados nos meses que antecedem e coincidem com o período de chuvas mais frequentes. Nesta terça-feira, 27, equipes da Prefeitura de Belém atuam na limpeza do canal Mata Fome que atende os bairros da Pratinha, Tapanã, São Clemente, Parque Verde, com total de 14 km de extensão. Equipes estão concluindo os serviços de limpeza no Canal Una 2, que drena as águas dos bairros Cabanagem, Una e Coqueiro. Homens da prefeitura também atuam nos canais da Gentil e Nina Ribeiro, localizados na Bacia do Tucunduba e Canal da Generalíssimo, na Bacia da Estrada Nova.
“Este serviço é necessário para melhor escoamento da água. Belém tem 155 km de canais e este é o caminho da água até a maré e que precisa estar limpo para a livre passagem da água, prevenindo alagamentos em diversas áreas da cidade”, explicou Claudio Merces, secretário municipal de saneamento.
O secretário ressalta que Belém é uma cidade de cota baixa, com 40% do território abaixo do nível do mar, e que “por isso é de fundamental importância a manutenção permanente do sistema de comportas que servem de barreira contra a água da maré”. Belém possui cinco importantes comportas instaladas nos Canais da Doca, Reduto, Tamandaré, do Una e Jacaré. Barreiras de contenção em madeira fazem a proteção dos Canais da Quintino, 3 de Maio, Timbiras e Caripunas.
“O sistema de comportas impede a entrada da água da maré e deixa o canal preparado para acumular água. No entanto, com fortes chuvas o canal acaba transbordando em vias mais baixas da cidade”, pontuou Marcus Carvalho, coordenador de macrodrenagem da Sesan.
Para facilitar o escoamento da água e reduzir pontos de alagamento, caminhões com equipamento de hidrojato atuam para desobstruir tubulações e facilitar o escoamento da água da chuva. “Além da terra que se acumula dentro dos tubos, temos também casos de obstrução causada por lixo que é conduzido pela água da chuva e termina na rede de drenagem obstruindo a passagem da água. Isso também é responsável por grande parte dos alagamentos registrados”, aponta Orlando Pereira, diretor do departamento de drenagem da Sesan.