Quando tinha 1 ano, Nilton Sérgio, 5, caiu do carrinho de bebê e sofreu um trauma na boca. Todos os dentes da criança quebraram e a gengiva ficou muito machucada. No início foi só preocupação e a mãe dele, Regiane Siqueira, procurou ajuda na unidade de saúde do bairro do Marco, onde ele fez tratamento inicial e depois foi encaminhada para o Centro de Especialidades Médicas e Odontológicas (Cemo), da Prefeitura Municipal de Belém (PMB). Há dois anos a criança segue sendo atendida. “Ele ficou com a boca muito sensível e me preocupei. Hoje é muito bem atendido e sei que o tratamento que ele recebe vai ser importante para o resto da vida dele. Hoje ele não tem vergonha de ser assim, mas vai crescer e por isso é preciso cuidar”, diz a mãe.
O incidente com Nilton dobrou os cuidados da mãe com a saúde bucal do filho. "Aprendi com os meus pais esse cuidado e hoje levo para os meus filhos. As orientações recebidas pelos profissionais são muito importantes", afirma a manicure, que é mãe ainda de uma menina de 9 anos. Para lembrar a necessidade desses cuidados e incentivar hábitos de higiene, nesta terça-feira, 20, celebrou-se o Dia Mundial da Saúde Bucal.
A atenção com a saúde bucal é muitas vezes negligenciada dentro de casa. E aí o resultado são dentes cariados, extração precoce ou permanente, problemas na gengiva, falhas na arcada dentária e outros. Para a dona de casa Vânia Lima, 51 anos, as orientações não vieram tão cedo e as perdas de dentes hoje a incomodam. "Nossa boca é um cartão postal e tem que ser cuidada. Nunca recebi orientação na infância e por isso acabei assim", conta. Atualmente, Vânia faz acompanhamento no Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) localizado na Unidade Municipal de Saúde da Marambaia e vai ao Cemo apenas para acompanhar o filho que passará por uma cirurgia para retirada dos sisos.
De acordo com a chefe do serviço de odontologia do Cemo, Alessandra Khayat, hoje a proposta do Sistema Único de Saúde (SUS) é a promoção da saúde. "É olhar o paciente como um todo dentro do seu contexto, desde onde ele mora, suas condições financeiras, sociais e sanitárias para poder proporcionar a educação em saúde e evitar que cheguem a adoecer. A correta higienização e evitar alimentos cariogênicos - açúcares e carboidratos - são o começo desse cuidado", alerta. A profissional ressalta que o ideal é fazer a escovação após cada alimentação. "Escovar três vezes ao dia é o mínimo", frisa.
O Cemo é um dos três serviços especializados de odontologia do município. Os outros dois estão na Marambaia e no Guamá, sendo o Cemo o maior deles. O serviço está vinculado ao programa federal Brasil Sorridente e atende a demanda encaminhada pelas unidades básicas de saúde do município. "No Cemo atendemos a média complexidade, dando suporte para as unidades básicas de saúde para atendimento em uma das especialidades, que são de endodontia (canal), ortodontia (aparelhos preventivos para crianças até 8 anos), periodontia, cirurgia oral menor, odontopediatria, Bebê Clínica e Pessoa com Deficiência", explica Ludimila Cunha, gerente do Cemo. Após ser tratado no centro, o paciente volta para atendimento contínuo na unidade de saúde mais próxima da sua casa.
O Cemo atende também urgência odontológica, que soma um quarto das consultas realizadas na unidade. "Das quase 4 mil consultas odontológicas, mais de mil são da urgência, onde atendemos pacientes com dor e pequenos traumas", explica Ludimila. Além do Cemo, é possível obter consulta odontológica de urgência nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da Sacramenta e de Icoaraci. Em caso graves, em que se necessita a avaliação bucomaxilofacial, o atendimento é feito nos prontos-socorros.
Para manutenção e acompanhamentos dos serviços de odontologia no município, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) mantém uma referência técnica, que atua no fomento e cria novos mecanismos para implementação da política de saúde bucal em Belém. "Hoje temos 39 unidades com serviço odontológico na atenção básica e temos número suficiente de profissionais capacitados para atuar tanto na atenção básica quanto nas unidades que são especializadas na saúde bucal, como os CEOs e o Cemo. Estamos com a revitalização de espaços físicos de salas e equipamentos de última geração funcionando dentro da rede, cadeiras odontológicas novas e outras demandas em finalização de processo licitatório para a expansão das equipes de Saúde da Família, que também atuam na prevenção", esclarece Rita Facundo, diretora do Núcleo de Promoção à Saúde da Sesma.
A Secretaria mantém equipes que dão orientação e informação, que vão desde a higiene bucal, ensinar a escovação e promover o uso do escovódromo a parceria com o Programa Saúde na Escola e com as secretarias municipal e estadual de educação (Semec e Seduc), que atinge mais de 60 mil alunos em 92 escolas. "Fazemos toda a parte preventiva. Quando percebemos que o caso precisa de uma atenção maior, encaminhamos o aluno para atendimento em unidade de saúde. Nossa programação de trabalho é semanal, inclusive para os alunos das ilhas, que fazem acompanhamento na carreta itinerante, em parceria com a UFPA (Universidade Federal do Pará), no Barros Barreto", explica Rita.
A diretora ressalta que hoje é possível dizer com segurança que a procura pela saúde bucal cresce na medida em que as informações da importância de ter uma visão mais preventiva da boca e dos dentes também aumenta. Segundo ela, a população deve procurar as unidades de saúde para avaliação profissional e não esperar a dor para cuidar. "A saúde bucal se reflete no sorriso e na autoestima das pessoas. Por isso, é importante cuidar da boca e adotar hábitos saudáveis para reduzir a incidência de doenças bucais", destaca Rita.