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Azulejaria portuguesa expõe beleza e história dentro do projeto “Laços Belém - Portugal”

Foto: Fernando Sette - Comus
Azulejaria portuguesa expõe beleza e história dentro do projeto “Laços Belém - Portugal”
Azulejaria portuguesa expõe beleza e história dentro do projeto “Laços Belém - Portugal”
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O acervo também inclui muitos azulejos que dona Rosa salvou do lixo e da destruição.

Belém é uma das cidades do mundo que possui uma maior riqueza de azulejaria, com grande variedade de cores, desenhos, texturas e tamanhos dos seculares azulejos, que constroem a narrativa histórica e cultural da capital paraense. Uma passagem, com um olhar atento pelos bairros da Cidade Velha e Campina, vai revelar a beleza dos antigos casarões azulejados, que sofreram forte influência de países europeus, especialmente, de Portugal.

Essa beleza histórica e inspiradora é tema de uma exposição de azulejos, mobiliário e objetos de origem portuguesa, que faz parte da programação do projeto “Laços Belém - Portugal”, e poderá ser conferida na próxima sexta-feira, 08, das 9 às 18 horas, no Boulevard das Feiras, galpão 3, da Estação das Docas. O evento é promovido pela Prefeitura de Belém, por meio da Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém (Codem) e a entrada é gratuita.

Coleção - Quem entra na residência do casal Antônio e Rosa Lúcia Soares, desde o portão de entrada, tem a nítida sensação de estar entrando em uma máquina do tempo, que leva a Belém dos séculos XIX e XX do século passado. É uma infinidade de objetos, estimada em mais de duas mil peças, que Rosa Lúcia e o marido guardam dentro da casa há cerca de 50 anos, o tempo de casados que eles têm.

O grande orgulho de dona Rosa são os azulejos, e a parte de azulejaria portuguesa é a que vai estar em exposição na Estação das Docas, ao lado de alguns móveis e objetos também oriundos de Portugal, que fazem parte da coleção que começou quando Rosa ainda era jovem e acompanhava o pai, Lauro Fernandes Maciel, filho de uma família portuguesa. Maciel era um apaixonado por antiguidades e frequentava leilões promovidos por Elias Ohana, em Belém, e Rosa ia junto. Normalmente após o leilão, Lauro presenteava a filha com uma peça. Assim, o acervo começou a ser formado.

“Quando me casei, eu já tinha alguns objetos, uns três ou quatro. Mas quando meu pai faleceu, minha mãe decidiu doar a mim uma parte do acervo de meu pai, porque ela falava que era admirável a forma como eu cuidava de cada objeto antigo que eu tinha. Atualmente, a nossa coleção de azulejos é a maior do Norte e uma das maiores do Brasil”, conta Rosa.

Com a ajuda do marido, o médico Antônio Soares, o acervo da família foi aumentando ao longo dos anos. Dona Rosa é só elogios ao esposo. “Sem o suporte dele, essa coleção não seria nada. Antônio acabou se tornando também um apaixonado por antiguidades. Ele me ajuda em tudo, na compra, na conservação e até quando a minha memória me prega peças e me esqueço de alguma coisa”, elogia.   

Acervo - A coleção da família Soares remete à luxuosa época áurea da Belle Époque, em Belém, e inclui belos exemplares de azulejos decorados, sejam com flores, figuras geométricas, arabescos ou mosaicos. Em sua grande maioria, os azulejos foram importados de países como Portugal, França, Holanda, Inglaterra, Espanha, Alemanha e Bélgica, para revestir alguns dos mais suntuosos casarões de Belém.

O acervo também inclui muitos azulejos que dona Rosa salvou do lixo e da destruição. “Quando Belém começou a viver essa fase de construção de espigões, na década de 70, muitos casarões foram derrubados e uma boa parte de azulejos foi perdida. Os casarões vinham abaixo e como não havia uma fiscalização rigorosa, muita coisa se perdeu”, explica Rosa, que salvou raríssimos exemplares de azulejos de um casarão derrubado, que ficava na esquina das ruas Avertano Rocha e São Francisco, onde hoje está uma igreja evangélica.

No acervo há uma infinidade de azulejos portugueses dos séculos XVIII a XIX, cada um com sua história, como por exemplo, um com a imagem de São José, que constava na decoração da fábrica do guaraná Soberano, na rua Siqueira Mendes, na Cidade Velha.

Em 2011, quando o Palacete Pinho, na Cidade Velha, foi reinaugurado, depois de uma longa reforma, os azulejos da coleção dos Soares foram expostos ao público. A mostra reuniu cerca de 300 azulejos e artigos de decoração que resgatam a história de Belém. Rosa conta que aquela foi a primeira vez em que reuniu uma grande quantidade de peças, em uma exposição. A colecionadora sabe detalhadamente a origem de cada azulejo da coleção, mas tem uns que ela mais admira. “Tenho duas peças de origem francesa, desenhadas com rostos femininos, do ano de 1905, e elas caracterizam exatamente o período da Belle Époque. Além da beleza das peças, o orgulho é saber que só a cidade de Belém teve esses exemplares”, destaca Rosa, relembrando que a foto dessas peças foram a capa do convite de uma exposição que ela fez, anos atrás.

Dona Rosa não é só uma colecionadora, como também é uma estudiosa. “Você olha os azulejos, mas não sabe dizer a procedência deles. Para saber tem que estudar o tardoz de cada um”, pontua. Tardoz é a identificação de cada azulejo, sendo a parte de trás de uma peça, aquela que tem de ser bem limpa de argamassas. O nome vem da Tardoz, uma pequena oficina em Lisboa, ligada à azulejaria portuguesa.

Elogios - Também em 2011, em uma visita à uma exposição organizada por Rosa, o professor da Universidade de Lisboa, Vitor Serrão, ficou encantado com o que viu. “Esse trabalho ajuda a preservar a memória e o patrimônio de Belém e dos seus azulejos. Essa coleção deveria ser transformada e transposta em um museu para ter uma existência solidificada”, disse ele em um texto escrito a mão, que dona Rosa guarda cuidadosamente.

Elogios também foram feitos à coleção pelos arquitetos Pedro e Dora Alcântara, em 1971. “Tenho a convicção de que o azulejo, uma das heranças dos colonizadores portugueses, marca as etapas da história do Brasil em diferentes pontos de seu extenso território. Essa linguagem colorida, feita de barro esmaltado, tornou-se um documento digno do nosso apreço”, escreveu a arquiteta em mensagem à dona Rosa.

Santo Antônio - Em 2014, durante a abertura da exposição "Azulejos - Arte e técnica", no Museu da Universidade Federal do Pará, foi apresentada uma proposta de tombamento dos azulejos e pinturas da igreja do Convento de Santo Antônio. A pequena igreja, que faz parte do colégio homônimo, é conhecida, não só pela beleza, mas por abrigar a celebração do Sermão das Sete Palavras, na Sexta-Feira Santa, à época da quaresma.

Os azulejos ainda não são tombados. Com o pedido de tombamento em nível nacional eles ficarão protegidos e poderão ser divulgados em todo Brasil e no mundo. Esses azulejos são os mais antigos de Belém e os únicos, provavelmente na Amazônia, e constam de painéis historiados, que contam fatos da vida de santos, que, no caso da capela do colégio Santo Antônio, revivem a história desse santo.

O acervo de azulejos do colégio Santo Antônio é distribuído em três ambientes: na capela-mor da igrejinha; no vestíbulo que dá acesso à capela e também na capelinha localizada em uma das galerias do claustro. Esses azulejos são os mais antigos existentes no Pará, chegaram aqui no século XVIII e são um raro exemplar do estilo Regência e Rococó francês na arquitetura setecentista paraense.

“O que se reconhece modernamente como azulejo é um objeto de forma regular quadrada, retangular ou poligonal, de material cerâmico com uma face decorada e vidrada, que surgiu somente no século XIV. A palavra azulejo é de origem espanhola, oriunda do árabe azuleich, que significa ‘pequena pedra lustrosa’, mas a grande influência decorativa nas peças vem da Pérsia”, explica a arquiteta Ana Léa Nassar Matos, autora de um estudo sobre os azulejos da capela, realizado em 2002.   

Os painéis de azulejos historiados que são encontrados na capela-mor foram colocados durante a primeira reforma do convento, entre 1740 e 1746. É costumeiro se comparar os azulejos da capela em Belém com os do Convento de São Francisco, da Bahia.

Os azulejos, como os da capela do colégio, foram executados de forma artesanal, pintados à mão, em cores azul e branco. No caso da capela, as cenas descrevem passagens da vida de Santo Antônio, com a que relata quando o Santo fez uma pregação aos peixes ou quando ele teve uma visão do Menino Jesus. Outro momento retratado é quando Santo Antônio recebe os estigmas de Cristo ressuscitado. “Esse conjunto de azulejos no colégio Santo Antônio é representativo de duas épocas das azulejaria portuguesa, uma que conhecida como o das ‘oficinas anônimas’ e a outra da época Pombalina, e trazem com eles as características de serem ornamentais e historiados”, complementa Ana Léa.   

Serviço:

Evento “Laços Belém - Portugal”, dias 07 e 08 de junho. No dia 8 (sexta-feira), das 9h às 16h, exposições, debates e recital de poesias, este, com a cantora Lucinha Bastos, na Estação das Docas. A partir das 17h, Festival Gastronômico, com venda de comidas e bebidas em barraquinhas na praça Frei Caetano Brandão, na Cidade Velha; às 19h, show de Fafá de Belém, na igreja de Santo Alexandre (com transmissão ao vivo para a praça); e às 21h, show “Alba Maria Canta Belém – Portugal” também na praça. Programação gratuita.

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