Para atender aos alunos com deficiência da rede municipal, os professores do Centro de Referência em Inclusão Educacional Gabriel Lima Mendes (Crie) participam da semana de planejamento e formação, iniciada na última segunda-feira, 28, até a próxima sexta-feira, 1° de fevereiro. Dentro da jornada pedagógica, são mais de dez atividades, entre oficinas e palestras, direcionadas aos professores de todas as especialidades atendidas pelo centro. Na manhã desta quarta, 30, os professores acompanharam a segunda parte da oficina de audiodescrição.
A oficina foi ministrada nesta terça e quarta-feira pelo professor Aguinaldo Barros, que é cego e consultor em audiodescrição, e pela professora Joana Martins, que é audiodescritora e vidente, ou seja, que não tem deficiência visual. A audiodescrição funciona com dois profissionais, que são uma pessoa vidente que tenha estudo em audiodescrição e uma pessoa que tenha deficiência visual que entenda desse serviço, que possam discutir o roteiro para garantir a acessibilidade. “É um trabalho em conjunto. Porque pode estar maravilhoso para mim, que sou vidente, e não estar acessível para alguém que é cego”, explica a professora Joana Martins.
“A leitura de imagens contempla outras pessoas também, pessoas disléxicas, com deficiência intelectual e até que enxergam, mas que no momento podem não estar enxergando”, completa Joana. O objetivo da audiodescrição é fazer com que as pessoas sejam capazes de acompanhar o que está acontecendo sem precisar olhar para a cena, utilizando poucas palavras com o máximo possível de informações.
O professor Aguinaldo Barros avalia como imprescindível a audiodescrição para o entendimento do cotidiano. “A audiodescrição é uma temática importantíssima para transformar a imagem em palavras. Estamos todos nós em uma condição de igualdade com diferentes possibilidades”, afirma.
“De agora em diante, mesmo que informalmente, a audiodescrição, assim como Libras [Língua Brasileira de Sinais], vai ser um tema presente no momento em que tivermos uma palestra, um evento”, completa o professor.
Os professores ministrantes da palestra fazem parte do programa Nas Tuas Mãos, do Crie, que auxilia os alunos cegos e com baixa visão, para que eles possam melhorar sua aprendizagem. O programa utiliza materiais adequados para esses alunos e promove a acessibilidade no dia-a-dia deles, nas salas de aula regulares e nas salas de recursos multifuncionais.
Lourival Nascimento realiza o atendimento ao aluno com deficiência visual no Crie. O professor, que também é cego, esteve como aluno na oficina de audiodescrição. Para ele, a troca de experiências, a reflexão sobre as práticas profissionais e a influência que isso faz na formação pessoal, trazem uma melhoria no atendimento à pessoa com deficiência.
“No momento em que eu estou me tornando mais sensível, eu acredito que não chego no trabalho da mesma maneira. A gente já alarga nosso entendimento, se dá conta que a pessoa que está ali está esperando alguma coisa, algum encaminhamento. A gente sai com uma prática melhor e o público ganha com isso”, afirma.
A formação do Crie é direcionada aos profissionais que atendem todos os tipos de deficiências. A mediadora do programa de Educação Bilíngue, que atende deficientes auditivos, Isabel Abrahão, participou da oficina de audiodescrição para atender aos alunos que precisem do serviço de descrição. “Eu posso receber um aluno surdocego. O Crie tem essa preocupação de você estar perpassando no estudo das deficiências para encontrar as eficiências nas crianças. Quanto mais esclarecimento você tem, mais você vai poder ajudar”, avalia Isabel.
Surda, a professora Taciele Romano também foi espectadora da oficina de audiodescrição, que contou com uma intérprete de Libras. Nas escolas municipais Maria Luiza Pinto Amaral e Benvinda de Franca Messias, ela ensina Libras para três alunos, mas conta que a formação vai permitir que ela atenda alunos surdocegos. “É muito importante trabalhar o tato com esse aluno. São muitas coisas que podem ser apresentadas. Ele tem que sentir o ensinamento com as mãos, através da Libras Tátil”, Taciele conta através dos sinais. Libras Tátil é uma linguagem que usa o toque nas mãos ou em outras partes do corpo para indicar uma palavra.
A formação segue com ações de planejamento e aperfeiçoamento do trabalho dos professores para que possam repassar esses ensinamentos dentro de cada distrito, nas escolas que realizam o atendimento direto ao aluno. Em média 30 professores participam de cada oficina de formação.
Atendimento - Atualmente, o Crie atende mais de duas mil pessoas com deficiência, que já possuam o laudo atestando a deficiência ou não. A rede municipal conta com 74 salas de recursos multifuncionais e com equipes multidisciplinares que incluem terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo, assistente social, educador físico. Além de estagiários que acompanham o aluno dentro da sala de aula regular e que também recebem a formação continuada.
“A nossa equipe é toda integrada, nós temos professores cegos, surdos, com altas habilidades. Nós temos uma ampla quantidade de professores que também têm deficiência, promovendo a inclusão desses professores, até para que o aluno veja e se inspire nesse profissional”, conta Rafaela Baía, terapeuta ocupacional que realiza o atendimento no Crie.
Comunidade - As pessoas que não têm vínculo com a rede municipal também podem ser atendidas pelo Crie, inclusive participar dos cursos do centro. Mensalmente, são abertos cursos com aulas de Libras, audiodescrição e promovendo a inclusão da pessoa com deficiência. Basta se dirigir ao centro para obter informações sobre as ações e realizar a inscrição nos cursos.
Serviço: O Centro de Referência em Inclusão Educacional Gabriel Lima Mendes (Crie) fica localizado na Avenida Gentil Bittencourt, nº 694, com atendimento das 8h às 18h.
