A estrofe: “Quando solto, acho bonito/Quando livre, me acho linda!/Com sangue de negra/ Vou te mandar/ Contra o racismo/Vou lutar!”, é do poema “Sangue de negra, orgulho de mim”, da estudante Maria Clara Pinheiro Bahia, de 12 anos, recitado com os colegas da Escola Municipal Rotary, no bairro da Condor, para a escritora e ativista negra Zélia Amador de Deus, uma das homenageadas da I Festa Literária de Belém (Flibe).
O evento é realizado pela Prefeitura de Belém, sob a coordenação da Secretaria Municipal de Educação (Semec), na praça do Povo, no Centur, desde o dia 16 e que encerra nesta sexta-feira, 23.
A menina ficou encantada com a literatura afro-brasileira apresentada na escola, a partir das obras de Bianca Santana, Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo. “Fiquei arrepiada de apresentar o poema que escrevi. Gostei muito dos elogios que recebi. No poema eu digo ‘Sangue de negra, orgulho de mim’. Não preciso mudar nada em mim, porque todos somos perfeitos”, disse, orgulhosa, Maria, que sempre gostou de ler e, recentemente, despertou para a escrita por incentivo da escola.
A I Flibe também homenageou os escritores João Paes Loureiro, Heliana Barriga e Antonio Juraci Siqueira. O evento integra a programação da Bienal de Artes de Belém e propõe “Uma celebração viva da palavra”, colecionando momentos inesquecíveis de acesso à leitura e de despertar da escrita nas mais diversas formas de expressão, como a Maria Clara.
Expressão Artística - Entre as 28 escolas municipais que passaram pelo palco central, a Escola Municipal de Educação do Campo (Emec) Milton Monte, da ilha do Combu, apresentou o espetáculo teatral “Por um rio de cores, vida e cidadania”, em que os estudantes alertaram o público para a preservação das ilhas de Belém. O roteiro foi construído com os alunos.
“Com a peça tive mais conhecimento sobre a preservação do meio ambiente. Todos nós somos responsáveis pelos cuidados com a natureza. O teatro me ajuda bastante na leitura”, disse a estudante da escola Paola Oliveira Moares, de 10 anos, que adquiriu dois livros na Flibe e já não para mais de ler.
Como a escola é o caminho que proporciona aos estudantes ribeirinhos o acesso a eventos literários na cidade, a Coordenação da Educação do Campo, das Florestas e das Águas (Coecaf) anunciou - após a apresentação dos estudantes _ que em novembro haverá a I Mostra de Arte e Cultura das Escolas da Educação do Campo, das Águas e das Florestas da rede para apresentar outras iniciativas de incentivo à leitura.
Inclusão - A leitura Inclusiva foi outro ponto forte da I Flibe. O Centro de Referência em Inclusão Educacional (Crie) Gabriel Lima Mendes proporcionou acessibilidade às pessoas com deficiência, oficinas e debates sobre leitura inclusiva.
“Minha experiência de leitura inclusiva floresceu no atendimento especializado com o aluno Nelson Henrique de Lima, de 13 anos, que tem deficiência visual. Com a parceria do programa Nas Tuas Mãos, do Crie, o professor Aguinaldo Barros, me ajudou a ensinar o sistema Braille. Com a leitura inclusiva, o Nelson, que adora lendas do folclore brasileiro, já conhece mais de 50 delas. Depois de ler, ele faz o reconto por desenhos e exposições orais, além de criar suas próprias histórias, com as quais se diverte e relaxa”, relatou a professora Jeniffer Souza, da Escola Municipal João Carlos Batista, da Cabanagem, que está maravilhada com os resultados alcançados com seu aluno.
Acesso à leitura – O programa Alfabetiza Belém, desenvolvido pela Prefeitura de Belém, para alfabetizar mais de 11 mil pessoas acima de 15 anos até 2024, também marcou presença com seus educandos, que tiveram acesso às mais variadas formas literárias. Eles ficaram encantados.
“Gostei muito de conhecer a Festa Literária. É um mundo novo que estou descobrindo. Conhecer outras pessoas do Alfabetiza e ver o mundo de uma forma diferente que não sabia que existia. Estou adorando, quero vir todos os dias”, disse a alfabetizanda Maria de Lourdes Penicho, de 57 anos, do Núcleo de Educação Popular (NEP) Raimundo Reis, no Bengui.
Quase 50 mil pessoas já visitaram a I Festa Literária de Belém, que integra a I Bienal das Artes de Belém e já entrou para o calendário de eventos municipais.