Pesquisar

Amor pelas vendas une diferentes gerações no Ver-o-Peso

O acolhimento faz parte da receita dessa família de trabalhadores, com ou sem laços de sangue, que improvisa, se junta e se ajuda para o sustento e também razão de vida e esperança para muitos
Foto: SYANNE NENO / SECOM
Amor pelas vendas une diferentes gerações no Ver-o-Peso
Amor pelas vendas une diferentes gerações no Ver-o-Peso
Amor pelas vendas une diferentes gerações no Ver-o-Peso
Amor pelas vendas une diferentes gerações no Ver-o-Peso
Amor pelas vendas une diferentes gerações no Ver-o-Peso

Mãe e filha compartilham o amor entre as vendas de alimentos, na feira do Ver-o-Peso

"O que será que será
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
Que gritam nos mercados que com certeza…” 

Às 08h da manhã de uma sexta-feira no Ver-o-Peso. É onde todo dia é dia de feira. Enquanto a música de Chico Buarque toca num radinho de pilha, três vendedores de farinha jogam dama, aproveitando uma folguinha no movimento.

Cada um aproveita o recreio como gosta. Na plateia da disputa, o filho de um dos jogadores de dama se distrai com intrépidos dedos, rolando a barra de notificações do Instagram pelo celular.

O jogo de dama é improvisado num caixote de madeira. Tampinhas de água mineral viram peças, estrategicamente movimentadas pelos trabalhadores. “Isto aqui ajuda a mente ficar aberta”, diz Isaac, 50 anos.

Num tabuleiro improvisado, vendedores de farinha se distraem em meio à rotina na feira - Crédito: SYANNE NENO / SECOM

Assistindo à barulhenta disputa no tabuleiro improvisado, estão seu Claudio, 65 anos, e Welington, 31.  Concorrer nas vendas com gente mais nova não assusta o mais velho.  “O segredo é cativar e manter os clientes”, garante o sessentão.

Welington, com apenas 31 anos, já conseguiu o que muitos senhores vêm tentando durante anos. Em fevereiro, recebeu o alvará de funcionamento da Prefeitura de Belém, beneficiado pelo esforço da nova gestão que chegou disposta a regularizar todo mundo e botar ordem na casa.

O medo “do rapa” ficou no passado. Agora, os agentes da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, que chegam vestindo camiseta cor creme, viraram os “creminhos”, apelidados pelos trabalhadores da feira. A ação agora não intimida, orienta e acolhe em as dificuldades. “Fui muito bem recebido por eles e rapidinho consegui minha regularização”, comemora Welington.

De diferentes gerações, Claudio e Welington não se consideram concorrentes na venda de farinha. Se sentem como em uma família. - Crédito: SYANNE NENO / SECOM

Do outro lado da feira do Ver-o-Peso, outras histórias marcam vidas de diferentes idades.  Dona Maria tem 77 anos e vende tucupi há quatro décadas no local. Ali pertinho, passa o vendedor de chá verde Daniel, de apenas 18 anos.  Dona Maria diz que a rotina de acordar, todo dia, às 2 da manhã, a mantém viva.  Daniel estuda à noite e deixa de se divertir durante o dia para acompanhar o pai nas vendas. “Adoro conhecer pessoas de todos os tipos e poder ajudar meu pai”.

A poucos metros dali, Francisco, 58 anos, acompanhado de uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, revela que foram a fé e as vendas que lhe devolveram a alegria. “Estava desempregado há muitos anos, enquanto enfrentava o câncer de minha esposa. Depois que me apeguei à Nazinha e comecei a vender limão aqui, na feira, virei a chave”, conta o vendedor.

Francisco reencontrou prazer em viver, depois de anos desempregado, trabalhando como vendedor de limões no Ver-o-Peso. - Crédito: SYANNE NENO / SECOM

Para enfrentar a concorrência, a dica de Francisco é amar os clientes como a si mesmo. Amor e acolhimento, aliás, são receita de família para muitos

Alda e Daniele são mãe e filha que trabalham juntas, vendendo refeições. “Cuidamos uma da outra enquanto garantimos o nosso sustento”, conta a filha, de olhos marejados.

Mãe e filha compartilham o amor entre as vendas de alimentos, na feira do Ver-o-Peso - Crédito: SYANNE NENO / SECOM

E é assim, movida pelo afeto, alegria e paixão pelas vendas, que a família Ver-o-Peso espera pela conclusão da reforma da maior feira a céu aberto da América Latina. A cada novo amanhecer da feira que pulsa 24 horas, o sol brilha para todas as idades.  Renovando sonhos e trazendo diferentes canções de vida.
 

Relacionadas: