Comemorado em todo o Brasil no dia 16 de maio, o Dia dos Agentes de Limpeza homenageia os garis, como são popularmente conhecidos esses profissionais fundamentais para a gestão urbana.

Em Belém, a Secretaria Municipal de Zeladoria e Conservação Urbana (Sezel) conta com cerca de 2.730 funcionários ligados à limpeza da cidade, que atuam por meio de empresas prestadoras de serviço. Na verdade, é possível acrescentar mais 14 pessoas a esse número: são servidores que ainda estão na ativa, mas exercem funções internas, devido à idade avançada e questões de saúde.
São ex-garis que dedicaram uma vida inteira a colaborar com a melhoria da cidade e enfrentaram diversas dificuldades ao longo de suas trajetórias profissionais — como o preconceito de pessoas que não valorizavam o trabalho e uma legislação que não previa tantos direitos como nos dias atuais.

Agostinho Oliveira, 63, teve dificuldade para começar a trabalhar ainda nos anos 1980. “Conheci a minha esposa, e eu não trabalhava. Ainda era jovem, né? Mais ou menos 20 anos. Aí meu sogro começou a chamar a atenção dela e de mim, porque eu não trabalhava. Eu ia atrás de emprego e sempre as portas se fechavam pra mim”, conta. A Prefeitura foi o único lugar que abriu as portas. “Um certo dia eu voltei andando, passei pela frente, aí estava escrito no portão: ‘Precisamos de braçais’. Aí eu disse: ‘Deus está abrindo as portas pra mim. Eu vou tentar aqui, né?’. Foi assim que entrei na Prefeitura”, relembra o servidor, que foi varredor e fiscal no antigo Aterro do Aurá.

Tibúrcio Pereira Barros, 74, trabalha desde 1966 no município. Ele relata que a rotina era muito árdua no começo, com poucas folgas e muitas horas de trabalho. “Aquele tempo não é como agora, né? Trabalhava o dia todinho, das 7h até as 5 da tarde. Trabalhava domingo, era feriado, não tinha folga. Só descansava quando a gente tirava férias, aí passava o mês em casa. Hoje em dia está mais organizado, melhorou muito”, relata.
O primeiro prefeito com quem Tibúrcio teve contato como servidor foi Stélio Maroja (1966–1970), e, provavelmente, o último será Igor Normando (atualmente no cargo), já que o idoso entrou com o requerimento de aposentadoria. De lá para cá, foram 18 administrações municipais, mas ele ressalta que a atual foi a única que reconheceu seus serviços. “Dia 12 de janeiro foi o aniversário de Belém. O Normando mandou um convite pra mim, pra eu ir ao Antônio Lemos. Recebi uma medalha de honra ao mérito, por ser o servidor mais antigo da prefeitura. Eu fiquei muito alegre, tiramos foto juntos. Ele me deu a medalha. O primeiro prefeito a fazer isso enquanto eu estou na prefeitura foi esse. O resto nunca fez”, conta Tibúrcio, que fez questão de dar entrevista com o uniforme da limpeza urbana.

“Nós trabalhamos em rua, em feira, tudo. A pé, de fiscal também. Eu trabalhei naquela 14 de Março e até em todas as transversais tudinho. Eu fiz muita limpeza no Círio e no Carnaval. O Círio dava mais trabalho por conta dos papéis que o povo jogava, era muita coisa”, relata Eliana Pereira, 73.
Marcos Lopes, diretor do Departamento de Limpeza Urbana (DLU) da Sezel, relata que, nas gestões anteriores, os idosos eram subaproveitados, por conta das condições físicas. “Nós pegamos esses idosos sentados ali, esperando a hora de ir embora. Chegavam e ficavam sentados, sem fazer absolutamente nada. Eles não tinham espaço, era assim.Eles estavam completamente abandonados”, conta Lopes.
Atualmente, os idosos recebem acompanhamento com terapeutas ocupacionais e ganharam uma sala exclusiva no DLU, onde desenvolvem atividades lúdicas, de artesanato e de interação social. Além disso, servem como “conselheiros” de limpeza para os atuais gestores da Sezel, que podem considerar as opiniões dos funcionários experientes no desenvolvimento de políticas públicas.