“Apesar de nunca ter sofrido qualquer tipo de violência, perto da minha residência, muitos ainda são os casos de mulheres violentadas, seja pelos seus parceiros ou por alguém de suas famílias”, relatou Ilda Pontes, 59, ao se deparar com a campanha intitulada “Diga Não à Violência Contra a Mulher”, da Fundação Papa João XXIII (Funpapa). A ação, que ocorre durante toda esta sexta-feira, 25, no segundo piso do Shopping Pátio Belém, na região central da cidade, deu visibilidade a diversas ações desenvolvidas no município para combater o problema. Nesta data, é celebrada internacionalmente a Não-Violência Contra a Mulher.
De acordo com a presidente da Funpapa, Adriana Azevedo, é de extrema importância desenvolver um trabalho desse cunho em locais como o shopping, por apresentar um grande fluxo de pessoas. “Esse é um tema que precisa ser levado à sociedade como um todo, e aqui conseguimos envolver não só as mulheres que sofreram, sofrem ou podem vir a sofrer algum tipo de violência, mas também ao público do sexo masculino”, pontua.
Dados disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) alertam para o fato de que o maior número de casos de violência registrados nos últimos oito anos está ligado à questão de abuso sexual, com 7.745 ocorrências. Em segundo lugar, aparece a violência do tipo psicológica e moral, com 6.829 notificações, e, em terceiro, a violência física, com 5.784 registros, maioria praticada por cônjuges e ex-cônjuges.
“Oitenta por cento dos casos de violência física contra as mulheres foram praticados por maridos e namorados, que muitas das vezes chegam até a ameaçar a vítima de morte, fazendo-a abandonar a própria casa”, completa Azevedo. “Nesse caso, após a realização da denúncia, a mulher é encaminhada pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) para a Casa Abrigo Emanuelle Rendeiro Diniz (Caerd), onde é acolhida”, esclarece.
O espaço de proteção à mulher vítima de violência doméstica, o Caerd, tem como objetivo proporcionar a segurança pessoal e emocional imediata. O local recebe, em média, um quantitativo de 20 mulheres por dia. “Eu cheguei ao abrigo muito assustada e com medo, mas lá recebi muitas orientações, além dos atendimentos psicológicos, educativos e sociais, que me possibilitaram passar o tempo produzindo lindas toalhas que hoje me ajudam a manter o sustento”, conta C.D, de 37 anos.
Durante o evento, foram expostos alguns dos trabalhos produzidos pelas mulheres atendidas na Casa Abrigo. E quem passava por ali, não deixava de notar a dedicação evidenciada através dos detalhes contidos nas produções, como foi o caso de Ilda Pontes. “Precisamos estimular esse trabalho e tornar cada vez mais aberto o acesso à informação acerca do tema que ainda tem muita abrangência no Brasil e no mundo”, analisa.
Queda – Apesar do alto índice ainda apresentado no Brasil de casos de violência contra a mulher, a Sesma vem registrando em Belém uma tendência de queda nos números, de 2012 até agora. Para se ter ideia, em 2012, foram notificados 1.214 casos de violência sexual contra a mulher, contra 1.203 em 2013; 1.184 em 2014; 1.062 em 2015 e 659 em 2016 (até o dia 21 de novembro).
Para a presidente da Funpapa, este é o resultado de um trabalho realizado com competência e de forma conjunta. “Esse é um trabalho que já mostra resultado e que precisa continuar até que consigamos romper qualquer tipo de violência interligada a nós mulheres”, concluiu Azevedo.
Ações – Além da Funpapa, a Coordenadoria da Mulher de Belém (Combel) está realizando 16 dias de ativismo contra a violência, através de palestras em escolas municipais. O Centro Dia esta promovendo rodas de conversas para alertar as mulheres com algum tipo de deficiência acerca do tema, e a Guarda Municipal leva a cabo o projeto SOS Mulher, realizado em parceria com o Tribunal de Justiça do Pará. O projeto permite que mulheres que estejam sob medida protetiva da Justiça, e que se sentirem ameaçadas pelo agressor, possam acionar a Central de Monitoramento da Guarda Municipal de Belém através de um aplicativo desenvolvido para aparelho celular.
Para denunciar casos de violência contra a mulher, qualquer pessoa pode ligar para o 180.