De uma mistura feita com produtos naturais e essências surge o tradicional banho de São João, que corre pelo corpo de milhares de paraenses no tradicional ritual realizado todos os anos no dia 24 de junho no mercado do Ver-o-Peso. Os banhos são feitos com folhas e flores, paus e cascas de madeira, cipós, além de essências para reforçar o cheiro. Os principais produtos são, conforme seus nomes populares, catinga-de-mulata, chama, abre-caminho, vindica, manjericão, manjerona-de-angola, alecrim-de-angola, trevo-da-sorte, trevo-do-mar, japana branca, patchouli e priprioca.
O dia do nascimento de São João Batista é o mais comemorado da quadra junina e por isso é atribuída a ele a fama de santo festeiro. Segundo a tradição cristã, ao nascer uma fogueira foi acesa para anunciar a chegada do santo e por esse motivo ele se tornou um dos símbolos dessa época do ano, juntamente com as famosas ervas usadas para os banhos no mês de junho.
Vendas - Acompanhado do banho, chegam dos mais diversos pedidos ao santo, como o encontro com o grande amor ou a realização profissional. E nada fica sem solução se depender das erveiras do complexo. “A pessoa chega com a cara toda tristinha aqui e eu logo digo que se precisa de amor. Eu resolvo. Se for problema de dinheiro, também. Se estiver doente, a gente vai curar. Esse banho resolve o problema que for”, afirmou dona Coló, de 65 anos, que já trabalha há 34 no ramo. “Nesse período as vendas de cheiro aumentam muito. Se a gente vende 50 por mês, em junho vendemos 300, por exemplo”, completou.
Quem vai pela primeira vez ao mercado se surpreende com diversos aspectos, principalmente na ala das erveiras. É o que afirma o paulistano Antônio Marcos Vespa, de 47 anos. “Desde a abordagem delas para nos oferecer e apresentar os produtos, até o momento que você sente cada cheiro, você vai se encantando com o local. É um choque cultural muito grande, é tudo muito exótico para quem vem pela primeira vez”, disse o biólogo.
Durante todo o dia, nessa época do ano, clientes se espalham em meio às ervas e cheiros e são atraídos pelas promessas que acompanham cada mistura. A estudante Joicy Carvalho, de 17 anos, foi ao mercado para uma pesquisa escolar. Mas não conseguiu sair de mãos abanando do mercado. “É a primeira vez que compro esses produtos, mesmo sendo paraense. Tem muita gente que não conhece os costumes. Não conhece, assim como eu, o poder que dizem ter essas composições. Sábado vou experimentar o banho de cheiro pela primeira vez”, contou Joicy.
Mas tem quem viva os costumes todos os anos e espere ansiosamente por essa data. É o caso do vigilante Bruno Furtado, que já chega nas barracas sabendo o que vai levar. “Vou fazer um festão de São João e só faltava o banho de cheiro para deixar numa bacia para todos que entrarem no sábado se lavarem nele. É pra tirar o mau olhado, a inveja e deixar a gente mais leve no final do ano”, afirmou Bruno.
Um dos pontos certos de quem procura as erveiras no Ver-o-Peso é a barraca de dona Beth Cheirosinha, de 66 anos, há mais de 50 trabalhando no mercado. E ela explica o motivo. “Comigo não tem conversa fiada: eu resolvo. É só comprar meu banho de cheiro, jogar num balde, macerar, diluir com água e deixar virar o dia para ficar bem concentrado. Chega no sábado, toma o banho e pronto, a vida vai melhorar”, diz. “O cliente pode comprar a garrafa já pronta ou comprar a erva separadamente e fazer em casa, depende de como cada um prefere”, explicou a erveira.