Um trabalho minucioso para recuperar o que o tempo desgastou e a ação do homem depredou. Assim tem sido o restauro do conjunto arquitetônico da Praça da República. Aos poucos, o lugar vai ganhando de volta a aparência original. Os frequentadores do local já reparam no resultado da reforma, que resgata a beleza e o valor histórico desse patrimônio tombado nas três esferas do poder público.
A mãe do pequeno Antônio Neto, 2 anos, Aline dos Santos, gosta de levar o filho para passear e brincar na praça e acredita que o local passou por uma transformação. “Eu acho tranquilo aqui para trazer meu filho e com a reforma tem ficado melhor ainda. A praça está ficando mais bonita. Os monumentos estão com o aspecto de novos. A calçada, a estrutura e a limpeza também melhoraram muito”, afirma Aline.
Segundo o historiador Michel Pinho, o local, que no passado era conhecido como Largo da Pólvora, representa o crescimento da cidade. “Se a gente pensa Belém no século XVIII, apenas como Campina e Cidade Velha, a praça significou o prolongamento da cidade para além desses bairros em direção à antiga Estrada de Nazaré”, explica o historiador.
Para ele, a praça guarda um importante valor histórico. “Mais do que o resgate da história, com a reforma da praça, temos que pensar na sua ressignificação. Restaurar esses monumentos não é apenas olhar para o passado, mas também atentar para o nosso presente, e a importância da praça como processo de ocupação e símbolo da democracia”, diz Michel.
O investimento da prefeitura de Belém chega a cerca de R$ 5 milhões na reforma que atingiu toda a extensão dos 58 mil metros quadrados do complexo da Praça da República, composta ainda pela Praça da Sereia e o Parque João Coelho, localizado na parte de trás do Theatro de Paz. Além dos monumentos, passaram por reforma os 12 mil metros quadrados de calçadas de pedra portuguesa, bancos e lixeiras. A praça contará ainda com novo paisagismo, iluminação pública e um sistema de monitoramento por câmera, já em fase de instalação. A previsão de conclusão da obra é até fim deste mês.
Dos 11 monumentos existentes na praça, apenas dois ainda passam por restauro. Símbolo da adesão à República, a estátua Marianne e as demais esculturas que compõem o monumento recebem cuidado especial. “Para realizar esse serviço foi necessário montar um andaime na altura do monumento de 20 metros. Cada detalhe das estátuas de bronze e do pedestal de mármore recebe limpeza manual, com lixas e produto especiais para recuperar a cor e o brilho”, explica o diretor de obras da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), Reinaldo Leite. O outro monumento é a Fonte Luminosa. Os restauradores se preocuparam em recompor os detalhes, como os braços das estátuas que estavam quebradas. Além disso, foi recuperada toda a parte estrutural da fonte, que voltará a funcionar e terá uma iluminação especial.
Outro ponto em fase de final de restauração é o Bar do Parque. Com a cúpula e fachada já reconstituídas, o quiosque começa a retomar a sua beleza arquitetônica. “No quiosque, prezamos por recuperar os detalhes decorativos originais da fachada e da cobertura. O interior dele já recebeu nova pintura, revestimentos, instalações elétricas e hidráulicas, bancada de granito e foram mantidas as pedras de lioz da soleira e peitoris”, ressalta o diretor.
Depois de passarem por reforma nas estruturas, coberturas, forros, piso, revestimento e calçadas de proteção, todos os monumentos receberam nova pintura nas cores originais, identificadas a partir de processos especiais. “Antes de iniciar a obra na praça, foi feito um levantamento para melhor conhecimento do bem, o que incluiu pesquisas históricas, mapeamento de danos e as prospecções pictóricas (análise de cores em laboratório). Esta fase do projeto foi desenvolvida pelo Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação vinculado à Universidade Federal do Pará (UFPA), referência neste tipo de trabalho. A empresa contratada para executar o serviço colocou uma série de bons profissionais para recuperar e restaurar a beleza desta praça”, diz a arquiteta e coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas na Seurb, Paula Andréa Rodrigues.
Todas as etapas da reforma do complexo da Praça da República estão sendo acompanhadas pelos órgãos ligados à preservação do patrimônio histórico, como a Fundação Cultural de Belém (Fumbel), o Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (DPHAC) da Secretaria Executiva de Cultura do Pará (Secult) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Pará (Iphan). “Os projetos desenvolvidos foram apresentados e passaram pela aprovação do Iphan. Se algo não está de acordo, providenciamos os ajustes. Além disso, são feitas vistorias periódicas à obra, com os técnicos desses órgãos. Há uma força-tarefa conjunta em favor do melhor para o patrimônio da cidade”, frisa a arquiteta.
Monumentos já restaurados
- Outubro de 2016: Pavilhão Euterpe (atrás do Theatro da Paz) e Coreto de Ferro (próximo ao monumento da República), junto com os banheiros públicos que funcionam em seus subsolos; Praça da Sereia, com o monumento do chafariz das Sereias, e o novo posto da Guarda Municipal.
- Novembro de 2016: Plataforma do Bar do Parque, incluindo subsolo, cozinha e os banheiros; bancos de alvenaria em frente ao Theatro da Paz, Obelisco dos Revolucionários e Caramanchão.
- Maio de 2017: 50% da calçada de pedras portuguesas; os 160 bancos da praça, além de 160 lixeiras.
- Julho de 2017: Lago central da praça, coreto de alvenaria, maloca e Cascata Grega.
- Agosto de 2017: 100% da calçada de pedras portuguesas e anfiteatro.