O desfile oficial das escolas de samba do Grupo 1, promovido pela Liga das Escolas de Samba de Belém e pela Prefeitura de Belém, por meio Fundação Cultural do Município (Fumbel), começou no início da noite da noite deste domingo, 4, e terminou na manhã desta segunda-feira, 5, na nova passarela do samba, a rua Marechal Hermes, no bairro do Umarizal, em Belém. A estimativa é que o desfile das oito escolas tenha sido assistido por mais de 20 mil pessoas.
Integram o Grupo 1 as escolas Deixa Falar, Xodó da Nega, A Grande Família, Bole Bole, Quem são Eles, Piratas da Batucada, Rancho não Posso Me Amofiná e Escola de Samba da Matinha, que entraram na avenida nessa ordem.
Para Fabrício Gama, presidente da Liga das Escolas de Samba de Belém, este ano, como uma nova fase para o carnaval na capital paraense, é apenas o início de um novo tempo e uma forma de aprimorar o trabalho realizado para os anos que virão. “Para a primeira vez, a organização está 100%, o trabalho fluiu da melhor forma. É uma coisa nova e, sendo assim, vai precisar de ajustes. Estamos vendo as dificuldades neste ano para no ano que vem melhorar. E estamos felizes, porque as pessoas estão nos parabenizando e foi muito positivo. Nós da Liga temos a certeza de que começou uma nova fase no Carnaval de Belém, em parceria com a Prefeitura, que nos deu o maior apoio”, disse Fabrício.
Deixa Falar - As primeiras escolas a entrarem na avenida traziam no samba enredo histórias do estado do Pará. Às 20h a sirene anunciou que a primeira escola estava pronta para entrar na avenida do samba. A Deixa Falar, que apresentou o enredo "Dendê, o óleo do negro de cor, aroma, religião e sabor", mostrou a história dos negros e a riqueza da criação dos pratos que vão do acarajé ao vatapá. A escola levou alegorias que retrataram as vendedoras de tacacá e também mostraram a força do Pará, que ganhou o mundo pela culinária.
A escola de 25 anos desfilou com 900 brincantes em nove alas, com dois carros alegóricos. Juliana Wanzeler, 32 anos, é madrinha de bateria da escola Deixa Falar há 10 anos, mas segundo ela, nenhum outro ano foi igual a este, em que a escola foi a sorteada para abrir a noite do Grupo Especial. "É um frio na barriga e responsabilidade sem igual, mas vamos nos esforçar para passar o melhor para esse público lindo que veio prestigiar nosso carnaval", disse.
Samantha Carmo, de 18 anos, e Adriano Santos, de 23, tinham a missão de serem os primeiros mestre sala e porta-bandeira a entrar na avenida. "É um mix de emoção e responsabilidade de representar com honra a nossa escola. Faço parte dela há 15 anos e ainda assim tenho a sensação de ser a primeira vez", contou Samantha.
Xodó - A segunda escola a entrar na avenida foi a Xodó da Nega, que fez uma homenagem ao escritor paraense Bruno de Menezes, poeta e folclorista, anunciador do modernismo na Amazônia. A escola tem 28 anos de criação.
A Xodó da Nega trouxe ainda para o meio da avenida a sua bateria com apoio do tradicional Boi Azul do Arraial do Pavulagem. O folclore paraense, juntamente com o boi bumbá, são temas de um dos poemas mais famosos de Bruno de Menezes.
Grande Família - Com o enredo “Alvorecer”, a Escola de Samba A Grande Família revisitou esse tema que é responsável por um dos sambas-enredos mais conhecidos da escola, que diz “Eu vou, eu vou, eu vou, eu vou pra Grande Família, meu amor”, no refrão.
Com 42 anos de avenida, A Grande Família surgiu do bloco de carnaval homônimo e é a representante do bairro do Telégrafo. Com 700 brincantes em sete alas, a escola trouxe dois carros alegóricos e duas colunas, e os brincantes apresentarram o conceito do amor pela escola e a união de uma grande família.
Bole Bole - Com 34 anos de criação, a Escola de Samba Bole Bole revisitou o enredo “Bole-Bole Pinta Sete Cores”, um dos temas da extinta Escola de Samba Arco-íris. Com 1.200 integrantes em oito alas, a escola levou ainda para a avenida dois carros alegóricos e duas colunas.
Pela Marechal Hermes, as alas mostravam todas as cores do arco-íris, em tons fortes. O público, que já conhecia o samba da época da Arco-Íris, cantou o famoso refrão: “Pinta sete, sete cores no meu coração; vem comigo, meu bem pra o Arco-íris, colorir a multidão”.
Quem São Eles - Carregando a tradição de ser a segunda escola de samba mais antiga de Belém, o Império de Samba Quem São Eles levou à rua Marechal Hermes a história da estrada de ferro Belém-Bragança, seu apogeu e desaparecimento. Com 1.200 brincantes e onze alas, o enredo mostrou um tom de saudade e também de denúncia, utilizando as tradicionais cores grená e branca.
O presidente da escola, Gláucio Sapucahaí, disse que levar a agremiação à avenida foi uma grande luta e um forte esforço para mostrar um Carnaval com beleza e brilho. “Vamos mostrar como essa história não pode e nem deve ser esquecida. Neste caso da estrada, o progresso acabou sepultando uma bela página da nossa história. O Quenzão vem para a avenida com muitas surpresas, mostrar e defender esse enredo com muita beleza”, afirmou Gláucio.
A comissão de frente da escola lembrava os construtores da estrada de ferro e os integrantes levavam trilhos que colocavam no asfalto, formando um trecho da estrada. O carro abre alas trouxe a tradicional águia do Quem São Eles e no chão dois sambistas também simbolizaram águias. A bateria fez homenagem aos condutores da locomotiva do trem e seus integrantes usaram macacões também na cor grená. Muitos dos instrumentos utilizaram luzes de LED para um efeito mais bonito.
Uma das alas da escola levou brincantes com roupas de época e também um grande zepellin, trazendo de volta essa época passada. O último carro alegórico foi uma homenagem à Maria Fumaça e soltava fumava de verdade pela chaminé.
Piratas - O Grêmio Recreativo Escola de Samba Piratas da Batucada, escola que surgiu a partir do bloco homônimo, é a representante do bairro da Pedreira e tem 72 anos. Este ano, a Piratas desfilou o tema “Da Turquia encantada, às encantadas da Turquia. Salve o povo que tem fé nos caminhos de Aruanda”, com 1.100 brincantes, distribuídos em nove alas.
Os integrantes da comissão de frente usaram burcas e longas saias vermelhas e pretas, que foram usadas nas acrobacias. O carro abre alas se transformou em uma grande tenda toda em vermelho.
O enredo fez menção às conquistas marítimas do povo turco. Por isso a bateria veio usando roupas de marinheiro, em azul e branco. O tema marinho se repetiu no carro alegórico que era uma mistura de peixe e barco.
A Piratas é uma das poucas escolas que mantém uma cantora entre os puxadores do samba enredo. A sambista e intérprete Maria Black chamou a atenção pela beleza e segurança da voz. Ela era a única mulher entre os cantores.
O presidente da escola, Jamil Mouzinho, disse que quando lhe perguntam qual é a surpresa no desfile da agremiação, ele fala que “não temos surpresas além dos nossos brincantes, que são e sempre serão nosso elemento surpresa, motivados pela garra, que é gigantesca”.
Rancho - O Rancho Recreativo Escola de Samba Não Posso Me Amofiná encheu a rua Marechal Hermes com muitas cores, dentro do atualíssimo tema da diversidade, com o enredo “Seis cores por um mundo melhor, celebração do orgulho de ser diferente e não desigual”. A quarta escola mais antiga do Brasil, que vem do bairro do Jurunas, defendeu os 84 anos de tradição com 1.200 brincantes em dez alas, dois carros alegóricos e duas colunas.
O presidente da escola, Jango Vidal, disse que o Rancho trouxe para avenida uma escola que prima pela presença de toda a comunidade jurunense. “A comunidade está toda aqui presente e abraçou, desde o início, o tema da diversidade, com respeito ao ser humano e dizendo não ao preconceito”, explicou.
O Rancho desenvolveu o enredo mostrando a questão do respeito às escolhas sexuais desde as idades antiga e média, até a contemporânea. O carro abre alas trouxe a tradicional coroa, que é o símbolo da escola. Toda a escola usou cores fortes, como o rosa, o vermelho, o amarelo e o azul.
Chamaram a atenção do público os dois carros alegóricos. O primeiro era um imenso dragão multicolorido que soltava muita fumaça pelas narinas e o segundo era um grande pássaro, também com asas muito coloridas.
O próprio samba enredo já explicitava a intenção de mostrar a diversidade, sem preconceito. Em um dos trechos, o samba dizia “A igualdade há de florescer”.
Matinha - Encerrando o desfile das escolas de samba do Grupo 1, a Escola de Samba da Matinha, do bairro de Fátima, entrou na rua Marechal Hermes debaixo de chuva e depois das 5 horas desta segunda-feira, 5. Com o tema “A emoção está no ar. Projetando vidas. Projetando sonhos. Projetando a sétima arte na passarela do samba”, a escola levou 1.200 brincantes em dez alas.
Com 47 anos de criação, a Escola de Samba da Matinha mostrou por que a emoção do cinema representa a todos. O presidente da escola, Rodolfo Trindade, disse que o tema foi escolhido pela comunidade. “Fizemos uma pesquisa com nossa comunidade, perguntando a todos qual tinha sido o filme que mais os emocionara. Os mais citados estão aqui na avenida, com muita inovação, garra e vibração”, disse.
A comissão de frente da Matinha trouxe os personagens do filme “Avatar” e foi muito aplaudida pelas acrobacias, inclusive utilizando troncos de bambu na execução. A comissão treinou as coreografias e malabarismos em Mocajuba, região do Baixo Tocantins. A escola dedicou uma ala ao personagem Carlitos, de Charles Chaplin, e fez menções a personagens do cinema, como Malévola, Coringa, Chapeleiro Maluco, Piratas do Caribe e outros, além de apresentar um carro alegórico retratando o filme “Titanic”.
O carro que trouxe a coruja, símbolo da escola, também trazia um dos moradores mais conhecidos do bairro de Fátima, o Veado da Bike, que representou o personagem Elliot, do filme “ET - O Extraterrestre”, que foi longamente aplaudido.
Fábio Atanásio, presidente da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), comemorou o fato de o público ter lotado arquibancadas e camarotes para acompanhar o desfile das escolas de samba. “Todos os órgãos da Prefeitura de Belém trabalharam de modo integrado para a realização desse Carnaval, que mesmo com a mudança do espaço, muito questionada, foi um grande sucesso”, afirmou ele.
O Desfile Oficial do Carnaval de Belém continua nos próximos dias 9 e 10 deste mês, na rua Marechal Hermes, com as apresentações das escolas do Grupo 3 e dos blocos carnavalescos, respectivamente.