Em junho de 2017 os bairros da Cremação e da Condor estiveram, por vários dias, em todos os noticiários da capital paraense após a chacina que deixou cinco mortos e 14 feridos. Era noite quando um grupo armado cercou a área e disparou contra pessoas que estavam em um bar na então movimentada rua Nova II. Os criminosos vitimaram crianças e pessoas conhecidas da comunidade pelo trabalho cultural e social desenvolvido na área.
Essa tem sido a forma mais comum que as comunidades dos bairros têm sido vistas nos registros de imprensa: pela violência, pela pobreza e pela falta de atendimento de direitos fundamentais. Agora, moradores da área e também do Jurunas foram convidados a participar de uma oficina de fotografia que culminará com uma tarde da exposição “Nós somos mais”, no Museu de Arte de Belém (Mabe), nesta sexta-feira, 31. A intenção é mostrar o que a imprensa não percebe e apresentar novos recortes dos locais onde eles vivem.
A oficina, oferecida de graça pela Prefeitura de Belém, dentro do Programa de Saneamento Básico da Bacia da Estrada Nova, tem como propósito melhorar a comunicação, apresentar conhecimentos e técnicas básicas e, ainda, ampliar as possibilidades de geração de renda para moradores das comunidades que serão atendidas com obras de macrodrenagem e urbanização. Faz parte das ações de desenvolvimento social e fortalecimento comunitário do Programa, que pretende, além da formação técnica, estimular nos moradores o sentimento de pertencimento e aumentar a autoestima em relação ao local onde vivem, a partir da pesquisa e da produção fotográfica.
Aos 17 anos, o adolescente Carlos Vinícius Leão Ramos chegou à oficina por curiosidade e agora está descobrindo o potencial da atividade de fotógrafo. Pensando na rua onde mora, quer mostrar o prédio de um asilo que antes existia na área e a fotografia será a ferramenta que pretende usar para falar sobre o assunto. “Eu aprendi as técnicas e isso ajuda a melhorar o trabalho”, avaliou o adolescente, após alguns exercícios fotográficos durante a oficina.
As aulas teóricas da oficina de fotografia ocorrem na Igreja Centrão, na rua São Miguel, no bairro da Cremação. Para o último dia de atividades está programada uma exposição com as fotos produzidas e selecionadas pelos participantes e ministrante.
Nesta quarta-feira, 29, o fotógrafo Tarso Sarraf, do jornal O Liberal, participou de uma conversa com os moradores para falar da experiência dele na cobertura da Copa do Mundo na Rússia e da Olimpíada no Rio de Janeiro. “Foi uma experiência única na minha vida. Acredito que nunca mais vou viver uma coisa dessas”, disse o fotógrafo sobre a cobertura. Ele orientou os moradores a buscarem o diferente, a não se preocuparem em tentar imitar outros fotógrafos. “Cada um constrói o próprio estilo de trabalho”, explicou, sobre a importância de testar a própria sensibilidade.
A dona de casa Leonice Muniz, de 60 anos, é uma das mais entusiasmadas da turma. “Eu estou muito feliz porque aprendi a usar e entender a minha máquina fotográfica. Agora eu quero fazer fotos da minha família. É importante registrar isso, a minha rua que é muito alegre”, planejou.
Exposição - A exposição com as fotos dos participantes da Oficina de Fotografia será no hall de entrada do Mabe, no Palácio Antônio Lemos, sede da Prefeitura, a partir das 15h30 desta sexta-feira, 31, com entrada aberta ao público. Serão aproximadamente 40 fotos na exposição coletiva dos mais novos conhecedores das técnicas básicas da fotografia.
Desenvolvimento Social - A Oficina de Fotografia é uma das atividades entre mais de 50 cursos e oficinas do Programa de Saneamento Básico das bacias da Estrada Nova e do Una, realizados pela Prefeitura de Belém, por meio do Programa Sanear Belém, com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como ação para promover o desenvolvimento social das famílias das áreas de obras.
São 250 milhões de dólares para ações de saneamento, urbanização, recuperação ambiental e desenvolvimento social, sendo 50% dos recursos financiados pelo BID e os demais 50% contrapartida do município. A previsão é de quatro anos de ações.