O colorido das saias rodadas de chitão, das camisas de cores fortes, dos cocares e dos arranjos florais na cabeça das mulheres ocuparam, com muita alegria e ritmo, as ruas do bairro do Umarizal no final da tarde deste domingo, 27, durante o encerramento da Semana do Folclore, promovida pela Fundação Cultural do Município (Fumbel). O cortejo, chamado de Levada Folclórica, teve saída da praça Brasil, com chegada ao Complexo Ver-o-Rio, reuniu integrantes de cerca de 12 grupos folclóricos da cidade e envolveu o público.
A pequena Isabela, de 3 anos, não deixava o pai, o economista Marcílio Alves, parado um minuto sequer. A todo momento a garota largava o pai na tentativa de acompanhar o ritmo contagiante do carimbó. “Eu sou baiano, mas nesses cinco anos morando em Belém já tivemos muito contato com a cultura aqui do Pará, como o Arraial do Pavulagem. Minha filha gosta muito e na escola dela as danças paraenses são muito divulgadas. Ela ouve as músicas e já quer sair dançando. E eu me divirto muito com essa alegria dela”, contou o economista, que acompanhou o cortejo inteiro com Isabela.
Ao longo do trajeto do cortejo da Levada Folclórica, muitas pessoas saíram de suas casas e também caíram na dança, sem conseguir resistir ao ritmo empolgante do carimbó.
Os grupos folclóricos que participaram do cortejo são integrantes da Associação dos Grupos de Danças Folclóricas de Belém e Região Metropolitana (AGDAF), que foi parceira da Fumbel na promoção da Semana do Folclore. Grupos como Águia Negra, Bom Bumbá Luar do Marajó, Flor da Amazônia, Sabor do Marajó, Asa Branca, Tribo Awaeté, Estrela do Mar, Encantos do Sol e outros foram alguns do que estiveram na programação de encerramento.
Para Cleber Raiol, chefe de Divisão de Artes Cênicas da Fumbel (Daec), a realização da Semana do Folclore foi muito gratificante. “Voltamos com esta programação e isso nos dá imensa gratidão. Foi uma semana pensada com muito carinho e agradecemos muito pelas parceiras que fizemos, o que garantiu o sucesso do evento”, avaliou Cleber.
As pessoas que já estavam no complexo Ver-o-Rio ficaram surpresas e felizes com a roda de carimbó. Muitas começaram a dançar e cantar as músicas mais conhecidas desse ritmo tão característico. A funcionária pública Tatiane Assunção foi uma dessas pessoas. “Eu não vinha aqui há algum tempo, e soube que o complexo havia sido reformado e vim conferir. Para minha surpresa, está tendo esse evento aqui, e acho isso de suma importância, porque é interessante prestigiar esses eventos porque eles valorizam ainda mais a nossa cultura popular”, elogiou.
A dançarina do grupo Frutos do Pará, Taynara Garcia, de 21 anos, dançou sem parar do início ao fim do cortejo. Cansada, mas sorridente, ela disse que estava muito feliz por ter participado de tudo com os colegas de grupo. “São muito importantes programações como essas. Meus pais sempre me incentivaram a dançar, me levavam a rodas de carimbó, e sou grata por isso. E muito importante para mim porque vejo que há um fortalecimento da nossa cultura”, comentou a dançarina.
Homenagens - Ao final do cortejo, no Ver-o-Rio, houve uma roda de carimbó e uma grande homenagem a alguns mestres da cultura popular em Belém. Os homenageados foram João Ribeiro, do grupo Águia Negra, de Icoaraci; Etelvina Cardoso, fundadora do grupo Asa Branca, também de Icoaraci; Iracema Oliveira, do grupo Pássaro Tucano; José Soares da Silva, o Mestre Zezinho, do grupo de toadas Encantos do Sol, do bairro da Sacramenta; e Mestre Venâncio, do grupo Os Baioaras, que não pôde comparecer à homenagem.
Iracema Oliveira, de 80 anos, além de coordenar o pássaro Tucano, desde 1980 gerencia o grupo parafolclórico Frutos do Pará e as Pastorinhas Filhas de Sion. Iracema “herdou” o grupo Tucano do pai, Francisco Oliveira, que o fundou em 1927. “Eu fico muito gratificada como essa homenagem numa Semana do Folclore, porque isso é um incentivo e um reconhecimento para continuarmos sempre em frente, apesar das dificuldades. Fico muito feliz e para mim é uma glória. Espero ter vida longa e assim continuar o trabalho do meu pai”, disse Iracema.
A professora aposentada Etelvina Cardoso, de 85 anos, fundou o grupo Asa Branca em 1947 no Distrito de Icoaraci, em uma atividade de folclore na escola Avertano Rocha. A experiência deu tão certo que o grupo existe até hoje e se tornou uma associação de folclore, que já se apresentou em quase todos os estados brasileiros, além de países como Itália, França e Guiana.
Dona Etelvina era uma das mais festejadas pelos dançarinos e músicos, de quem recebia abraços e beijos. “Fico muito feliz de ver os antigos integrantes do meu grupo e que continuam nessa missão de levar adiante esse trabalho. É uma grande felicidade não ser só homenageada, mas receber esse carinho todo”, comentou.
Semana - A Semana do Folclore, promovida pela Fumbel, teve início na segunda-feira, 21, e contou com uma extensa programação que teve exposição de vestuário e instrumentos musicais no Museu de Arte de Belém (Mabe); palestra, oficinas de batuque e ritmo e seminário, no Memorial dos Povos; exibição de filmes sobre arte popular no Cine Olympia; apresentações artísticas no Complexo Ver-o-Rio, além de uma programação especial, com danças e shows, na Biblioteca Municipal Avertano Rocha, no distrito de Icoaraci.
Para o diretor da Coordenadoria Municipal de Turismo (Belemtur), Victor Cunha, a Semana do Folclore foi importante também para incentivar o turismo em Belém. “Parabenizo a Fumbel pela iniciativa desta programação porque trouxe muitas pessoas a este espaço, que é de todos. O Complexo Ver-o-Rio está reformado e pronto para receber a todos. Isso é importante para o crescimento do turismo, porque abrimos este espaço também para nossos artistas da cultura popular, o que ajuda a eles e a nós a desenvolvermos, ainda mais, a grandeza de nossa cidade”, avaliou o diretor.