O espaço de convivência nas escolas tem em comum as muitas experiências trocadas entre os alunos. Dessa vivência pode vir resultados até inesperados, como produções para o cinema, por exemplo. Alunos da Escola Municipal Manuela Freitas, localizada no bairro São Brás, levam essa história de ‘fazer cinema’ muito a sério, e acabam de terminar o quinto curta-metragem produzido na escola. O lançamento da última produção dos estudantes, “Metas para o Amanhã”, é nesta quarta-feira, 30, às 15 horas, no Cine Olympia, com entrada franca.
O projeto teve início em 2013, depois que alunos da professora de Inglês da escola, Walcilea Cardoso, produziram e lançaram o livro “Manuela Conta”, com histórias de suspense e terror. Entusiasmados, os estudantes sugeriram à professora continuar contando mais histórias, mas desta vez para o cinema.
“Começamos com histórias do imaginário popular e de suspense. No início, não tínhamos equipamento e fizemos o primeiro filme, ‘A Maldição do Meio Dia’, começando a filmar com o celular mesmo, e depois com uma câmera emprestada. Logo depois, eu ganhei uma filmadora e as coisas melhoraram”, relembra a professora.
A professora Walcilea, além de coordenar o projeto, é a produtora dos filmes, produz as locações, auxilia na criação do roteiro, dirige as cenas, e até opera o microfone. “A nossa intenção é envolver os alunos na produção inteira. Eles criam a história, dão palpites, auxiliam na produção e se envolvem por completo, porque atuam também como atores no filme”, conta.
O projeto envolve cerca de 25 alunos, do 7º ao 9º ano do ensino fundamental da escola, com idades entre 13 e 15 anos, alguns ex-alunos e até pais dos estudantes. Depois do primeiro filme, “A Maldição do Meio Dia”, vieram “A Moça do Táxi”, baseado na conhecida lenda urbana sobre o fantasma de uma moça, que sai do cemitério de Santa Izabel para um passeio de táxi pela cidade; “O Contato”, que se utiliza do mito da Matinta Perera; o quarto foi “Além da Aparência”, até chegar ao ainda inédito “Metas para o Amanhã”.
Produção - As produções utilizam o espaço da escola como locações, e também já saíram para locais como o cemitério de Santa Izabel, o Bosque Rodrigues Alves, a casa da família de um deles e uma clínica neurológica nas imediações da escola.
“Depois dos três primeiros curtas, que tiveram o fantástico e o imaginário como foco, optamos por temas mais próximos dos alunos, falando mais perto da realidade deles”, continua a professora Walcilea. O primeiro filme dessa nova fase, “Além da Aparência”, mostra a adaptação de um aluno cego à escola, e alguns dos problemas que ele teve com bullying de colegas que não sabiam como lidar com a novidade. “Mostramos o problema e também a solução dele. Nesse caso, falamos de inclusão também”, diz a professora.
Amanhã – O curta de 25 minutos, “Metas para o Amanhã”, filmado entre os meses de maio e junho deste ano, mostra uma realidade que permite fazer reflexões sobre temas atuais. A trama mostra a história de Sara, uma adolescente muito popular na escola e que, subitamente, descobre que está com uma doença grave. Quando a turma ‘descolada’ da menina descobre a enfermidade, começa a se afastar, mostrando preconceito em relação ao problema enfrentado pela garota. Triste, carente e desanimada, ela começa novas amizades com o pessoal da turma ‘nerd’, que aceita bem melhor a realidade vivida pela nova colega. Mais uma vez, o problema é mostrado, discutido, mas a resolução dele é mostrada de uma forma que deixa boas lições de vida.
A ideia da história foi de Henrique Fagundes, de 17 anos, atualmente ex-aluno da escola Manuela Freitas. O adolescente assina o roteiro e a direção do curta, assim como ele já havia feito em “O Contato” e “Além da Aparência”. Ele conta que sempre gostou de cinema e se interessa pelo assunto desde cedo. “Sempre gostei de arte, criar cenas, pensar em histórias. Quero muito concretizar esse sonho de fazer cinema, que é a minha meta profissional”, aposta Henrique.
Depois de apresentar a história e com auxílio da coordenadora do projeto, a trama foi tomando corpo. Quando o roteiro ficou pronto, foi apresentado aos alunos da escola, que deram palpites e sugeriram alguns pontos. “O resultado final ficou muito bom. O que eu queria era que as pessoas gostassem do que iriam trabalhar, e isso aconteceu. Os alunos são muito interessados, responsáveis e foram muito comprometidos durante a produção inteira”, elogia Henrique, que também é o operador de câmera nas produções.
Elenco - A produção do curta continuou com a escolha do elenco. Henrique e a professora Walcilea fizeram os testes com os alunos do colégio. O papel principal, o de Sara, ficou com Vitória Rauana; o de Edgar, namorado da menina que a ajuda a enfrentar a doença, é de Daniel Moura; e o da colega, meio desafeto de Sara, é de Francielly Costa. A figuração é dos alunos da escola e a edição de Fábio Veloso, de uma produtora de Belém, com auxílio de Walcilea e Henrique.
Daniel Moura, de 14 anos, está entusiasmado com o curta. “É tudo pela primeira vez. É meu primeiro ano aqui na escola e meu primeiro trabalho como ator, o que tem sido uma bela experiência. Mostrar uma realidade que é a nossa também, me deixa feliz em ajudar a contar essa história”, afirma o adolescente.
Fazer o papel de Sara foi um presente para Vitória Rauana, de 14 anos, apesar de ela não estar esperando ganhar o papel principal no curta. “Não esperava mesmo, foi uma grande surpresa, o que me deixou muito feliz. A experiência foi maravilhosa, o que me levou a ver o mundo de outra forma. Eu, realmente, senti e vivi a doença da Sara e todos os problemas que ela teve”, comentou Vitória.
Francielly Costa, de 12 nos, também teve dúvidas se iria conseguir o papel, mas agora ela até fala como se fosse ainda o personagem, se referindo ao amigo Daniel, como Edgar, papel dele no curta. “Foi uma experiência maravilhosa, apesar das dificuldades e do estresse. Gostei muito de ter atuado como atriz”, avaliou Francielly.
Todas as atividades do grupo de alunos são amplamente apoiadas pela direção da escola Manuela Freitas. “Estou muito feliz com resultado do que vi no trailer, mas quero ver o filme pronto e junto com os nossos alunos, em tela grande. Acredito que a escola atualmente precisa disso, de se atualizar, de se ajustar aos que alunos gostam, de buscar formas de linguagens diferentes, que treinem o olhar e a oralidade, e o cinema é exemplar em proporcionar essa chance”, avalia a diretora da escola, Dalva Araújo.
O curta-metragem “Metas para o Amanhã” foi inscrito no Festival Internacional de Cinema de Caeté (FICAA), no município de Bragança, que será realizado em dezembro deste ano, e está aguardando o resultado da seleção para concorrer na categoria de Melhor Curta de Ficção.
Os trabalhos do projeto de cinema da escola Manuela Freitas, produzidos anteriormente, podem ser assistidos no canal da professora Walcilea Cardoso no YouTube, no link https://www.youtube.com/channel/UCp-lTQBku2l-73knG_ZvgBg. Ela conta que o curta “A Moça do Táxi” já tem mais de quatro mil visualizações no canal. Outra forma de saber mais sobre o projeto é no blog da escola http://emefmanufreitas.blogspot.com.br
Serviço:
Estreia do curta-metragem “Metas para o Amanhã”, produzido por estudantes da Escola Municipal Manuela Freitas, quarta-feira, 30, às 15 horas, no Cine Olympia (Avenida Presidente Vargas). Entrada gratuita.